Título: Ministro japonês comete suicídio
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Fonte: O Estado de São Paulo, 29/05/2007, Internacional, p. A15

O ministro de Agricultura do Japão, Toshikatsu Matsuoka, de 62 anos, se suicidou ontem, horas antes de prestar declarações ao Parlamento sobre seu envolvimento num escândalo de malversação de fundos públicos. Ele é o primeiro ministro a se suicidar no Japão desde o fim da 2ª Guerra Mundial. Segundo analistas, o suicídio de Matsuoka representa um novo golpe para o primeiro-ministro Shinzo Abe, cujos índices de popularidade caíram em meio a crescentes questionamentos sobre seu governo.

Matsuoka morreu no hospital depois de ser encontrado inconsciente em seu apartamento em Tóquio, informaram funcionários do governo. Uma autópsia confirmou que ele se havia enforcado, disse uma fonte policial. Segundo a imprensa japonesa, o ministro foi encontrado de pijama pendurado na dobradiça de uma porta de seu apartamento com o que parecia ser uma guia de cães em volta do pescoço. Ele teria deixado várias notas de suicídio, incluindo uma endereçada a Abe e à população, desculpando-se por suas ações.

Abe, visivelmente comovido após ir ao hospital onde Matsuoka morreu, disse que, embora o ministro estivesse 'sob escrutínio intenso' no Parlamento, continuava sendo um membro útil do gabinete. 'Sinto-me muito frustrado', afirmou Abe. 'Quando vi seu rosto, parecia estar em paz', acrescentou. 'Espero profundamente que sua alma descanse em paz.'

Matsuoka vinha enfrentando persistentes críticas sobre um escândalo por supostas irregularidades nos livros contábeis e deveria comparecer ontem à tarde ao Parlamento para prestar declarações. Segundo as acusações, o ministro pediu compensações de mais de US$ 236 mil em gastos de eletricidade e gás, apesar de estar usando um escritório parlamentar no qual esses serviços são gratuitos. Além disso, era acusado de envolvimento em outros escândalos por intermediar propostas de contratos e contribuições políticas indevidas.

Abe tinha defendido Matsuoka, dizendo que o ministro lhe havia informado que todos os assuntos tinham sido conduzidos de forma apropriada. No entanto, segundo a imprensa, vários membros do governista Partido Liberal Democrático haviam pedido sua renúncia.

Abe já havia sido atingido pela saída do ministro de Reformas Administrativas Genichiro Sata, que foi forçado a renunciar em dezembro por causa das acusações de mau uso de fundos políticos.

O ministro de Meio Ambiente, Masatoshi Wakabayashi, assumirá a pasta de Agricultura temporariamente, informou o governo.

A morte de Matsuoka somou-se aos problemas já enfrentados por Abe antes das eleições para a Câmara Alta do Parlamento, em 22 de julho. O apoio ao gabinete japonês caiu a seu nível mais baixo desde que Abe assumiu o poder, em setembro, por causa de um escândalo envolvendo o desaparecimento de dados sobre o pagamento de pensões de mais de 50 milhões de pessoas, que agora não podem receber o dinheiro ao qual têm direito. A aprovação do gabinete de Abe é hoje de 32% - 11 pontos porcentuais a menos que em abril -, segundo o jornal Mainichi.

'A morte de Matsuoka ocorreu em um momento muito inadequado. Ela pode prejudicar o governo de Abe', disse o analista político Eiken Itagaki. 'Abe terá de lutar para manter a estreita maioria que a coalizão de governo tem na Câmara Alta.'

O Japão tem o maior índice de suicídios entre as nações industrializadas e os especialistas atribuem esse fato parcialmente à ausência de proibições religiosas para que as pessoas tirem a própria vida. E também à tradição de cometer o suicídio como forma de escapar da humilhação pública.