Título: Juro pode ter corte maior, diz Bird
Autor: Mello, Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/05/2007, Economia, p. B1

O Brasil vai continuar a se beneficiar de um ambiente econômico positivo nos próximos meses e o Banco Central poderia baixar os juros mais rapidamente. Essa é a análise do Banco Mundial (Bird), em seu relatório Financiamento do Desenvolvimento Global de 2007, divulgado ontem. Na previsão do Bird, o Brasil vai crescer 4,2% este ano, 4,1% em 2008 e 3,9% em 2009. No ano passado, o PIB do País avançou 3,7%.

'As tendências positivas observadas recentemente no Brasil - redução do desemprego, criação de empregos formais, recuperação de renda real e aumento da capacidade de produção - vão continuar a estimular a economia nos próximos meses', diz o relatório. Segundo o Bird, o Brasil poderia cortar a taxa de juros de forma mais agressiva. 'Há espaço para reduzir mais as taxas de juro, embora o Banco Central tenha desacelerado o ritmo de cortes da Selic.'

Além disso, dizem os economistas do banco, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que prevê investimentos de US$ 240 bilhões entre 2007 e 2010, deve ajudar a sustentar o crescimento acima de 4% neste ano e no próximo. 'Apesar da desaceleração da demanda por importações dos EUA, o crescimento de países como México e Brasil vai acelerar ou se estabilizar em taxas altas, na medida em que esses países continuam a se beneficiar de um ambiente externo favorável, com baixas taxas de juros de longo prazo e risco país reduzido.'

O banco alerta, no entanto, para a possibilidade de correção na bolsa de valores de muitos emergentes. 'Há temores de que uma correção substancial possa ocorrer em alguns países; nos últimos quatro anos, os preços das ações mais que quintuplicaram na Argentina (525%), Brasil (520%), Colômbia (517%), Egito (760%), Peru (522%) e Rússia (538%). Uma correção significativa nesses mercados levaria a uma considerável redução de fluxos estrangeiros e queda da confiança dos investidores.'

Argentina e Venezuela terão trajetórias de crescimento bem menos positivas, segundo o banco. A queda do preço do petróleo e redução dos gastos do governo vão desacelerar o crescimento do PIB da Venezuela, de 10,3% em 2006 para 6,5% em 2007 e cerca de 3% nos dois anos seguintes. Com a queda da produção do petróleo e o baixo crescimento de investimentos, por causa das políticas do presidente Hugo Chávez, a produção industrial do país está em queda e a inflação atingiu 18,5% em março.

Na Argentina, a desaceleração será mais gradual. Como o crescimento na produção industrial ganhou impulso recentemente, o país tem capitais que sustentam a demanda doméstica. Com isso, o PIB ainda crescerá 7,5% este ano, segundo o Bird. Mas a pressão inflacionária deverá reduzir a expansão a 5,6% em 2008 e 3,8% em 2009.