Título: Falsa solução
Autor: Ming, Celso
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/05/2007, Economia, p. B2
Em entrevista à correspondente do Estado em Washington, Patrícia Campos Mello, o economista e blogueiro internacional Nouriel Roubini advertiu que, se o objetivo é reverter a atual valorização do real, não basta derrubar os juros; é preciso, afirma ele, adotar alguma forma de controle na entrada de capitais especulativos.
Esta é uma sugestão recorrente, sempre rejeitada pelo governo Lula, menos por razões ideológicas do que práticas. Baseia-se no pressuposto de que uma das principais causas da queda do dólar no câmbio interno seja a entrada de capitais especulativos. As estatísticas não nos dão conta de que haja essa enxurrada. Em todo o caso, a formulação de Roubini merece crítica. Se entende que não adianta derrubar os juros, ele não aceita que a principal razão para a valorização do real seja a especulação com diferença entre juros internos e externos.
Ninguém discorda de que são intensas as operações de arbitragem com juros no Brasil. Mas essas operações talvez sejam feitas mais por meio da retenção de capitais, que em condições normais sairiam, do que pela entrada de recursos novos.
De todo modo, há ao menos outras quatro razões que desaconselham a adoção de controle na entrada de capitais com objetivo de evitar especulação com juros.
A primeira delas é a de que se há forte entrada de capitais de curto prazo, por definição se espera que saiam logo, e o tanto que tivessem ajudado na valorização do real ajudariam também na desvalorização. Assim, a adoção dos controles só contribuiria para a permanência desses capitais. Há quatro anos a cotação do dólar vem caindo. Se há quatro anos a entrada de capitais especulativos fosse relevante para o que vem acontecendo, há quatro anos esse capital estaria voltando, ajudando na virada do câmbio. Mas não é o que acontece. Ou o capital não é tão especulativo ou sua entrada não é relevante.
Segunda razão, é difícil distinguir capitais de curto prazo que venham especular (o que se desejaria coibir), de capitais também de curto prazo que venham financiar o comércio exterior (e que não se desejaria coibir). Além disso, o financiamento de operações comerciais pode ser só um disfarce. O importador de uma máquina, por exemplo, pode aceitar um financiamento externo não porque careça de recursos para pagamento, mas porque use o financiamento para aplicar seus recursos próprios no mercado interno.
Terceira, o único jeito de distinguir capital especulativo de capital de prazo mais longo é conferir quanto tempo fica no País. Desse modo, não faria sentido controlá-lo na entrada. Seria preciso impor controles só na saída, sem que se evite a valorização da moeda que ocorre na entrada.
E quarta, alguns países adotaram no passado esse mecanismo e não se deram bem. O Chile, por exemplo, continua com problemas de excessiva valorização do peso, mas desistiu em 1998 de controlar a entrada de capitais especulativos porque concluiu que esse controle não é eficaz. O caso da Tailândia, do início deste ano, foi desastroso. E o da Colômbia, que há três semanas impôs uma quarentena para capitais de curto prazo, não conseguiu estancar a valorização do peso.