Título: Wolfowitz culpa mídia por renúncia
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Fonte: O Estado de São Paulo, 29/05/2007, Economia, p. B3

O presidente do Banco Mundial (Bird), Paul Wolfowitz, disse ontem que sua saída do cargo, anunciada para o dia 30 de junho, deve-se à imprensa. A declaração foi dada durante uma entrevista à rede britânica BBC. Wolfowitz foi acusado de beneficiar a namorada, Shaha Riza, com uma promoção. O conselho do Bird considerou procedente a queixa, deixando-o sem alternativa que não fosse a renúncia.

Na entrevista à BBC, Wolfowitz afirmou que a direção do Banco Mundial aceitou suas explicações de que agiu o tempo todo de modo ético e de boa-fé. O ex-número 2 do Pentágono negou que sua saída do banco esteja relacionada a seu comportamento nesse tema. Ele justificou a renúncia dizendo que a pressão que sofreu durante o processo causou sentimentos que o fizeram se sentir incapaz de conseguir o que pretendia.

'Acho que (o ocorrido) nos diz mais da forma de atuar da imprensa que do banco', queixou-se Wolfowitz. 'As pessoas se deixaram influir por afirmações inexatas e, quando conseguimos estabelecer mais ou menos a verdade, os sentimentos já estavam transbordados', disse o ainda presidente do Bird.

Wolfowitz defendeu sua gestão nos dois anos à frente do banco e elogiou especialmente os que trabalham para a instituição em outros países, longe de Washington.

Ele anunciou sua decisão no dia 17 deste mês, depois de sofrer fortes pressões durante aproximadamente um mês. Até o último momento, ele tentou provar que não havia cometido irregularidades. Shaha é uma especialista em Oriente Médio que tinha uma sólida carreira no Banco Mundial.

Quando Wolfowitz assumiu a presidência da instituição, Shaha foi transferida para o Departamento de Estado americano. Na transferência, ganhou um aumento salarial de US$ 60 mil e passou a receber mais do que a própria secretária de Estado, Condoleezza Rice.

Durante a entrevista à BCC, um jornalista perguntou a Wolfowitz se ele se arrependia de algo. 'Talvez de umas poucas coisas, mas agora me sinto bastante bem', respondeu.

SUCESSOR

Wolfowitz também comentou a designação de um novo presidente para o Banco Mundial, cargo que, por tradição, é ocupado por algum americano. Ele disse que gostaria de ver mais representantes africanos na instituição. 'Para que tomemos com seriedade as vozes africanas, deveria haver mais (africanos)', afirmou.