Título: Fiocruz cria exame para detectar hepatite pela saliva
Autor: Cimieri, Fabiana
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/05/2007, Vida&, p. A14

Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) desenvolveram uma nova metodologia para detectar o vírus da hepatite A baseada em amostras de saliva. O exame tradicional é o de sangue, mas, como a doença atinge principalmente crianças com menos de 6 anos, a coleta de saliva é mais fácil.

O novo método foi validado pelo Laboratório de Desenvolvimento Tecnológico em Virologia do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) e permite identificar a doença mesmo durante o período de janela imunológica - pós contágio, mas antes do aparecimento dos primeiros sintomas. A janela imunológica dura cerca de duas semanas, anteriores ao início de produção de anticorpos pelo organismo.

O IOC já está desenvolvendo um kit de diagnóstico completo que poderá ser usado em escala maior. A fase de testes deve ser concluída em um ano.

A pesquisadora Ana Maria Coimbra Gaspar, do instituto,disse que o método pode ser usado também para detectar outros tipo de hepatite e viroses. A desvantagem é que o coletor de saliva é importado e, nos casos de outras doenças, a qualidade do resultado pode ser inferior ao exame de sangue.

De acordo com Ana Maria, orientadora da tese de mestrado da biomédica Luciane Amado, cuja pesquisa deu origem à nova metodologia, o exame da amostra de saliva é feito pelo mesmo método que a análise do sangue. O tempo necessário para se obter o resultado é o mesmo: um dia para a detecção de anticorpos (que demonstram se o paciente já teve ou tem a doença) e dois para saber se ainda é portador do vírus HAV.

¿A substituição do soro pela saliva facilitaria muito no diagnóstico de hepatite A, no momento de ocorrência de surtos ou mesmo de casos esporádicos da doença, já que o segmento da população envolvido é de crianças. A coleta de saliva não causa nenhum desconforto físico ao paciente¿, disse ela.

IDÉIA NA GRADUAÇÃO

A pesquisa de Luciane analisou 127 pessoas envolvidas em surto da doença ocorrido em outubro de 2005 em uma creche municipal na favela do Jacarezinho, no Rio. O trabalho teve início ainda na graduação da pesquisadora, que verificou a possibilidade de utilizar amostras de saliva para a detecção de anticorpos das hepatites A, B e C .

Na primeira etapa do estudo, foram coletadas amostras de sangue e saliva das pessoas afetadas e de quem teve contato com elas. As análises constataram que 83% estavam infectadas e que a maioria, 64%, era assintomática.

A ausência de sintomas contribui para a disseminação da doença e por isso detectar o vírus rapidamente é fundamental para o controle de surtos - daí a importância de um teste que permita a detecção do vírus mesmo no chamado período de janela imunológica.

A eficiência do novo método foi comprovada na segunda etapa da pesquisa. Por meio da quantificação da carga viral na saliva, ficou demonstrado que as amostras apresentaram maior virulência (37% de freqüência do vírus na amostra) que as de sangue (32%).