Título: Europa quer mais cortes de tarifas do Brasil
Autor: Caminoto, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/05/2007, Economia, p. B9

O presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, manifestou confiança na conclusão da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) até o fim do ano. 'Estou otimista, a rodada vai sair', disse ele, ontem, em seu gabinete na capital belga.

Mas avisou que o acordo vai exigir 'cortes reais' nas tarifas de importação de bens industriais do Brasil e de outros grandes países emergentes. 'Estou convencido de que o Brasil só tem a ganhar com uma maior liberalização de seu setor de serviços e industriais', disse. 'Se eu fosse o Brasil, faria isso.'

Barroso ressaltou que a União Européia (UE) já fez propostas de abertura de seus mercados agrícolas. Entre elas, o fim dos subsídios às exportações e a redução em 40% de suas tarifas médias de importação de produtos agrícolas. 'Podemos fazer novos cortes se outros também melhorarem suas ofertas, e nos referimos principalmente aos Estados Unidos, no caso de seus subsídios aos agricultores', afirmou.

Mas Barroso disse que espera uma contrapartida do Brasil, principalmente na área de bens industriais. 'Estamos pedindo ao Brasil cortes reais por corte reais nas tarifas', afirmou. Segundo ele, Bruxelas não ficará satisfeita apenas com uma consolidação das atuais tarifas para bens industriais aplicadas pelo governo brasileiro.

'Queremos cortes efetivos.' O Brasil, acrescentou, não deve esperar as mesmas concessões oferecidas por Bruxelas para os países 'menos desenvolvidos', que incluem em alguns casos a abolição de tarifas de importação agrícolas até 2009. 'Com o devido respeito, o Brasil não é Guiné-Bissau', disse.

Os ministros do G-4 - grupo integrado pela UE, pelos EUA, pelo Brasil e pela Índia - realizarão entre os dias 19 e 22 de junho, numa capital européia ainda a ser escolhida, uma reunião considerada crucial para a superação do impasse. Barroso salientou que o tema também será tratado durante a cúpula do G-8, entre os dias 6 e 8 de junho, na Alemanha, que contará com a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

BRASIL-UE

Barroso rebateu as críticas de que o projeto de parceria estratégica entre o bloco europeu e o Brasil será limitado por não dar relevância a um ponto crucial na relação bilateral: o comércio agrícola. 'Para o Brasil, olhar para a Europa sob o prisma da agricultura é uma visão redutora', disse ele, ao apresentar detalhes do projeto que será aprovado amanhã pela Comissão Européia. 'A agricultura obviamente é importante, mas nossa relação vai muito além disso'

A parceria estratégica será o ponto alto do primeiro encontro de cúpula Brasil-UE, no dia 4 de julho, em Lisboa, que contará com a presença do Lula. A- proposta de Bruxelas - cujo formato final será negociado com o governo brasileiro nos próximos meses - prevê o estreitamento do 'diálogo e cooperação' em vários setores, como o econômico, político, meio ambiente e tecnológico.

A proposta também pretende servir de estímulo para o fortalecimento do Mercosul e para a um futuro acordo comercial. 'O Brasil é uma das maiores democracias do mundo e líder regional', disse Barroso. Mas a proposta não aborda a questão da agricultura, área de enorme interesse para o Brasil, que quer ter mais acesso de seus produtos ao mercado europeu.

Barroso disse que a questão agrícola está sendo tratada na OMC. Ele ressaltou que a relação entre a UE e o Brasil não pode ser restrita ao comércio agrícola. 'O Brasil é destinatário de um volume de investimentos diretos europeus de 80,1 bilhões, maior que o dos demais países do Bric somados', salientou. Os investimentos diretos da UE na China e Rússia é de 31,3 bilhões.