Título: Patrimônio de Morelli vira alvo de devassa
Autor: Brandt, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2007, Nacional, p. A5

A Polícia Federal está rastreando informações que apontem enriquecimento ilícito de envolvidos na Operação Xeque-Mate. Dados das quebras de sigilo fiscal dos acusados constante do inquérito ao qual o Estado teve acesso mostram movimentações financeiras superiores aos rendimentos declarados por parte deles. Um dos alvos da devassa é Dario Morelli Filho, amigo e compadre do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O irmão mais velho do presidente, Genival Inácio da Silva, o Vavá, não foi alvo de pedido de quebra de sigilo fiscal, apesar de ter sido acusado de receber dinheiro da quadrilha para fazer lobby no governo e na Justiça.

No relatório enviado pela Receita Federal, a análise de movimentação financeira de Morelli de 2002 a 2006 levantou suspeita. A primeira delas foi o aumento da movimentação financeira dele entre 2005 e 2006. Segundo a Receita, Morelli movimentou R$ 320 mil em 2005 e R$ 661 mil no ano seguinte.

Nos anos de 2002, 2004 e 2005, a movimentação financeira de Morelli esteve substancialmente acima do total de seus rendimentos. Em 2002, ano em que Lula chegou à Presidência, Morelli teve uma movimentação de R$ 176 mil, enquanto seus rendimentos foram de R$ 21 mil. Em 2004 ele movimentou R$ 178 mil e teve rendimento de R$ 38 mil. Já em 2005 os rendimentos foram de R$ 53 mil e a movimentação chegou a R$ 320 mil.

O compadre de Lula é acusado pela PF de ser sócio do ex-deputado estadual Nilton Servo, um dos supostos líderes da máfia dos caça-níqueis. Eles seriam os donos da Deck Vídeo Bingo, em Ilhabela (SP), registrada em nome de um laranja. Para a PF, Servo repassava valores para Morelli, que entre outras tarefas tinha a função de corromper policiais. Segundo apontam os grampos telefônicos, o amigo de Lula ficou sabendo da operação antes mesmo de ela ser deflagrada.

Em depoimento prestado no dia 5, Morelli negou que fosse sócio de Servo. Ele alegou que apenas prestava serviços na Deck Vídeo Bingo. Quanto às movimentações financeiras acima de seu rendimento, ele afirmou que é dono de uma empresa de locação de veículos, a Dario Morelli Filho ME. A empresa, segundo ele, não tem conta bancária, portanto faz toda movimentação por sua conta pessoal. Disse ainda que o salto de movimentação financeira entre 2005 e 2006 ocorreu devido a serviços prestados pela sua empresa de locação na campanha eleitoral do ano passado.

A empresa de Morelli foi contratada para locar carros para a campanha de Aloizio Mercadante (PT-SP), que concorreu ao governo de São Paulo em outubro de 2006. Declaração de despesas da campanha entregue ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) mostra que ele recebeu R$ 187,6 mil pelos serviços.

CONVERSA COM LULA

Em seu depoimento ele afirmou ainda que trabalhou numa campanha de Lula, mas não disse em qual, e que conversou duas vezes neste ano com o presidente, na casa dele em São Bernardo, ¿sem tratar de política¿.

A PF quer apurar o patrimônio acumulado pelo grupo para depois pedir o seqüestro de bens e o possível ressarcimento de valores sonegados pela quadrilha. Para isso, está cruzando os dados dos pedidos de quebra de sigilo com as referências financeiras constantes nos 617 diálogos anexados ao processo e as declarações prestadas pelos acusados.