Título: Religião foi o mote central da Parada Gay
Autor: Contier, Julia e Amendola, Gilberto
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2007, Metrópole, p. C10

Por volta das 14 horas, o Hino Nacional foi executado. Era a senha para o começo da Parada. Em poucos segundos, católicos, evangélicos, espíritas, budistas e ateus estavam pulando ao som da música eletrônica. Com a religião como principal tema, a 11ª Parada do Orgulho GLBT atraiu, segundo organizadores do evento, cerca de 4 milhões de participantes ontem à Avenida Paulista, um recorde do evento paulistano. Em 2006, 2,5 milhões foram à festa. A Polícia Militar optou por não fazer a estimativa de público.

O mote religioso se deveu à passagem do papa Bento XVI pelo Brasil em maio. Denominações evangélicas como A Igreja Para Todos e a Comunidade Metropolitana aproveitaram para fazer panfletagem e tentaram angariar novos fiéis. ¿Deus aceita a gente como a gente é¿, disse o pastor Gelson Piber, de 45 anos. As fantasias mais incrementadas também trouxeram referências religiosas. ¿Eu sou o papa do amor. Não vou morrer por não poder usar preservativos. Usem camisinha, irmãos¿, pediu José Ribeiro Fernandes, de 56 anos.

Na sacada dos apartamentos, grupos inteiros faziam festas particulares. O clima era de aprovação. O vinho vendido a R$ 5 e o tempo quente foram responsáveis por excessos. Beijos roubados, beliscões, desmaios e pequenas brigas ocorreram no evento. O aperto e o empurra-empurra fizeram fantasias se desmancharem no começo do evento. ¿É difícil ficar bonita a festa inteira, amor¿, disse a transformista Camille André, de 29 anos.

Bexigas feitas de camisinha ou espalhadas pelo chão serviam para muitas cantadas e abordagens. ¿Vamos gastar essas camisinhas, vamos¿, gritava um rapaz para quem passava. Embaixo da bandeira do arco-íris, símbolo do movimento gay, o clima também era de ¿oba-oba¿. Os gays mais politizados chegaram a reclamar. ¿Eu preferia quando a Parada Gay era mais política. Agora, fica essa molecada fazendo farra¿, reclamou Marcos Paulo da Silva, de 47 anos.

A participação dos idosos foi marcante. O escritor Ricardo Moura Aguieiros, de 58 anos, empunhou um cartaz com a simpática mensagem: ¿Idosos também são muito gostosos¿. ¿Quem é idoso e gay sofre o dobro de preconceito. A gente vive nessa ditadura do bonito, do mais novo¿, contou.

O auxiliar de enfermagem Dino Peres Martins, de 50 anos, causou furor na Avenida Paulista ao chegar com uma moto cor-de-rosa. ¿Sou a Penélope Charmosa dos gays. Sofri muito preconceito dos motoqueiros e agora sou assumidão.¿

PROTESTO

No grupo de idosos que apoiou o evento estava Cid Tavares, de 68 anos, e a namorada, Maria Angelina, de 67 - um dos casais mais animados da festa. ¿A gente adora. Pena que vamos embora antes do fim. Terceira idade tem de dormir cedo¿, afirmou Cid.

Além de gays, lésbicas e simpatizantes, a Parada contou com a participação de quem gosta mesmo é de protestar. A professora Maria Teixeira da Silva, de 68 anos, contou que não perde uma manifestação popular. ¿Já estive em greve de professores, no impeachment do Collor, nas Diretas Já...¿

Antes da abertura do evento, o dublê Luís Alexandre da Silva, de 36 anos, levantou um cartaz com a seguinte mensagem: ¿Deus condena a prática homossexual¿. A atitude poderia ter terminado em confusão, mas o espírito era de festa.

A Polícia Militar registrou apenas ocorrências corriqueiras, como furto de telefones celulares, de carteiras e algumas brigas. ¿Essa é a Parada do amor¿, disse o presidente da Associação da Parada do Orgulho GLBT, Nelson Matias Pereira.

FRASES

Orlando Silva Ministro dos Esportes

¿Se o Lula pudesse, ele estaria aqui com vocês¿

Gelson Piber Pastor evangélico

¿Deus aceita a gente como a gente é¿.