Título: Putin diz que OMC é 'arcaica'
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2007, Economia, p. B3

O presidente russo, Vladimir Putin, atacou a Organização Mundial do Comércio (OMC), acusando-a de ser 'arcaica, não democrática e inflexível'. A Rússia não faz parte da OMC, mas isso não impediu que Putin criticasse a organização e até sugerisse a criação de uma entidade alternativa.

As críticas ocorreram às vésperas de uma reunião que será realizada hoje em Genebra entre os ministros do G-20 (países emergentes como Brasil, Índia e China) para pressionar as economias ricas a liberalizarem seus mercados agrícolas. As negociações lançadas em 2001 entram em suas semanas decisivas. Para o Itamaraty, um acordo poderá ser concluído até julho. Mas, falando ontem em uma conferência em São Peterburgo, Putin acusou a OMC de atender apenas aos interesses dos países ricos.

'Hoje, o protecionismo que a OMC tenta combater vem dos países desenvolvidos que criaram a organização', afirmou, lembrando que o discurso do Ocidente em defesa do livre comércio não é traduzido na prática. Para Putin, o fracasso dos governos em fazer avançar a Rodada Doha de negociações é uma demonstração de que existem problemas no funcionamento da entidade. 'Métodos velhos de tomada de decisão não funcionam', disse.

O presidente russo chegou a ameaçar a criação de uma organização paralela. 'Para estimularmos comércio e investimentos, valeria a pena pensar na criação de um instituto regional da Eurásia que poderia se beneficiar da experiência da OMC', disse. Os russos negociam há anos a entrada do país na organização. O processo, porém, está complicado diante da falta de acordo com os parceiros europeus no setor de investimentos e energia.

Pascal Lamy, diretor da OMC, concordou que o sistema internacional não é adequado. Mas insistiu que a opção não seria abandonar a OMC.

'Precisamos modificar o sistema, adaptá-lo e reformá-lo, pois foi criado num tempo em que o mundo era diferente', disse Lamy.

ESTRATÉGIA

Enquanto os russos atacam a entidade, Brasil, Índia, China e outros países emergentes tentarão fechar hoje uma estratégia conjunta do grupo, conhecido como G-20, para a fase final das negociações da OMC.

Ministros dos países emergentes esperam acertar seus ponteiros para pressionar os países ricos a cortarem seus subsídios agrícolas e reduzirem tarifas de importação.

No sábado, o chanceler Celso Amorim se reuniu com o comissário de Comércio da Europa, Peter Mandelson, em um encontro em Genebra. Diplomatas revelaram que Mandelson tratou do grau de abertura do mercado europeu e teria indicado que poderia aceitar taxas de liberalização próximas ao que quer o G-20.

Além da pressão contra os países ricos, a reunião ministerial de hoje servirá ainda para que os membros do G-20 demonstrem unidade em um momento crítico das negociações.

Amorim também tratará de temas como o grau de abertura que o País e demais economias emergentes estarão dispostas a aceitar no setor industrial.

Na semana passada, durante a cúpula do G-8 na Alemanha, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já avisou que o País estaria disposto a flexibilizar suas posições, uma exigência das economias ricas para aceitarem uma abertura de seus mercados agrícolas. Os líderes do G-8 também pediram a conclusão rápida da Rodada Doha.

A partir do dia 19, em Potsdam, na Alemanha, ministros do Brasil, Índia, Estados Unidos e Europa se reunirão para três dias de encontros que serão decisivos para a OMC. Em Genebra, diplomatas reconhecem que essa será 'a última chance'.

O diretor da OMC, Pascal Lamy, ainda acredita que conclusão da rodada pode ser concretizada. 'Precisamos de tração política, e os negociadores precisam ser instruídos a fazer todos os esforços possíveis. Acredito que isso é factível, mas ainda não chegamos lá', concluiu Lamy.