Título: 'Há situação degradante na produção de cana'
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2007, Economia, p. B5

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, confessa: parte da produção de cana-de-açúcar no Brasil é feita com trabalho degradante e em péssimas condições. A questão é delicada entre ativistas e alguns governos europeus que insistem em que o Brasil dê atenção à forma pela qual a cana é cortada e transformada, caso exporte etanol no futuro. Em alguns países, já se fala na adoção de selos ambientais e trabalhistas para o etanol.

'Mesmo com todo o dinheiro que circula no setor, ainda há uma situação degradante para os trabalhadores. Não é preciso nem ir ao interior do País para encontrar essa realidade: até em São Paulo ela existe', disse Lupi, que participa pela primeira vez da Conferência Internacional do Trabalho, em Genebra.

Em entrevista ao Estado, Lupi disse acreditar que as futuras exigências de países ricos ao importar o etanol podem ser positivas para o País. 'Esses critérios forçarão os produtores a modificarem suas práticas, caso queiram lucrar com o mercado exterior.'

Segundo Lupi, a maior parte dos problemas ocorre entre os pequenos produtores. 'Entre os grandes produtores, a automatização existe em larga escala. Para aqueles que fornecem cana para outras empresas, muitos trabalhadores se submetem a condições horríveis, trabalham sem luvas e até perdem os dedos.'

Até novembro, a União Européia anunciará a criação de um selo ambiental para o comércio do etanol. A questão trabalhista ainda não será avaliada. Em Bruxelas, porém, funcionários da Comissão Européia garantem que a opinião pública acabará exigindo que as condições de trabalho sejam consideradas na importação do combustível.

Para Lupi, com as exigências do exterior, as empresas deverão ficar atentas à forma de produção. 'É nesse momento que podemos buscar a qualificação dos empregados', explicou Lupi.

O ministro informou que o governo iniciará em julho uma ação conjunta com os governos de Pará, Maranhão e Piauí para combater o trabalho forçado na região.