Título: Esqueletos de obras já fazem parte do cenário em Alagoas
Autor: Rodrigues, Ricardo
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/05/2007, Nacional, p. A7

¿No verão a gente sofre com a poeira e no inverno, com a água da chuva entrando nas casas. Tudo por conta dessa obra, desse elefante branco que já recebeu rios de dinheiro e até hoje, quase dez anos depois de iniciada, ainda não foi concluída¿, reclama o servidor público estadual Celso Gomes de Almeida, de 55 anos, que mora em frente à obra de macrodrenagem - feita para represar água da chuva - da região do Tabuleiro do Martins, na parte alta de Maceió.

A obra teve início em 1998, pela Construtora Gautama, do empresário Zuleido Soares Veras, preso pela Polícia Federal (PF), acusado de chefiar a quadrilha que desviava dinheiro de obras financiadas com recursos federais. O segundo e maior tanque da obra está abandonado e tomado pelo matagal.

A macrodrenagem é uma das obras da Gautama com suspeita de irregularidades investigadas pela Controladoria-Geral da União (CGU). Auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU) detectou pagamento superfaturado de R$ 15 milhões à Gautama pelo projeto.

Na relação de obras executadas pela empreiteira em Alagoas também constam as adutoras do Agreste e Serão, ambas consideradas obsoletas por técnicos da Companhia de Abastecimento D¿Água e Saneamento de Alagoas (Casal); o Canal do Sertão, iniciado em 1992 e longe de ser concluído; o Sistema Pratagy, iniciado há 23 anos e retomado em 1998.

Todas essas obras são investigadas pelo TCU, mas o pivô da denúncia de que integrantes do governo estadual receberiam propina foi a construção da barragem de Duas Bocas, parte do Sistema Pratagy.

Segundo a CGU, do total de R$ 77,8 milhões, Alagoas já recebeu R$ 30 milhões para a barragem. Parte desses recursos, R$ 3,164 milhões, foi desviada pela quadrilha chefiada por Zuleido Veras, dono da Gautama, segundo a PF. A construtora teria sido beneficiada pelo então secretário de Infra-Estrutura, Adeílson Bezerra, que em troca teria recebido R$ 145 mil de propina. Preso pela PF, Bezerra foi exonerado pelo governador Teotônio Vilela Filho (PSDB).

Entre a barragem e a macrodrenagem fica a estação de tratamento de água do Sistema Pratagy, que tem como objetivo captar, armazenar, tratar e distribuir água potável para a população de Maceió. No total, a empresa de Zuleido já recebeu cerca de R$ 166 milhões para o projeto. O TCU investiga denúncia de superfaturamento.

Outra obra inacabada da Gautama em Alagoas está no município de Olho D¿Água do Casado, a cerca de 230 quilômetros de Maceió. Trata-se de uma adutora que seria instalada no Assentamento Nova Esperança, para irrigar as lavouras . A obra, iniciada em 2000 e há três anos parada, foi orçada, há nove anos, em R$ 51 milhões. Do projeto restaram os paredões de concreto, que já fazem parte do cenário de abandono no meio da caatinga.