Título: Família de Passos foi acusada de liderar máfia da grilagem
Autor: Tavares, Bruno
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/05/2007, Nacional, p. A13

Em 1995, a CPI da Grilagem, aberta na Câmara Legislativa, acusou a família do deputado Pedro Passos Filho (PMDB) de liderar a máfia de falsificação de títulos de propriedade. ¿Os fatos mais graves que envolvem a história da grilagem de terras e implantação de parcelamentos ilegais no Distrito Federal confundem-se, em determinado momento, com a própria trajetória dos irmãos Passos no ramo imobiliário¿, diz o primeiro parágrafo do capítulo Os Passos: a arte da dissimulação, incluído no relatório final da CPI. As denúncias feitas pelos parlamentares levaram o Ministério Público a denunciá-lo por crimes contra o parcelamento do solo urbano.

Enquanto se defendia das acusações, Passos teria sido convencido pelo então governador do DF, Joaquim Roriz, a entrar para a vida política.

Com a paixão em comum por cavalos, a amizade entre eles se consolidou durante os leilões e eventos rurais dos quais participavam. ¿O Pedro sempre foi o filho que o Roriz quis ter¿, confidencia um funcionário do deputado, que pediu anonimato. Passos, então, filiou-se ao PMDB, a mesma legenda do padrinho político. Nos cartazes feitos para a campanha de 2002, os dois apareciam sempre abraçados.

Às vésperas da eleição, Pedro e seu irmão Márcio foram surpreendidos por um pedido de prisão preventiva, decretado pela Justiça do DF. Era o resultado de investigações sobre a construção de condomínios irregulares. Eleito com pouco mais de 10 mil votos e livre graças a um habeas-corpus, Passos assumiu o mandato de o deputado.

Com a memória da CPI da Grilagem enterrada pela eleição, em abril de 2005 Passos licenciou-se do cargo de deputado para ocupar a pasta da Agricultura, a convite de Roriz. ¿Fui por nostalgia de infância, pelo desejo de atuar naquele segmento de que mais gosto¿, disse na quarta-feira, em discurso emocionado na tribuna.

Foi nessa época que, afirma, teve contato com o Projeto Rio Preto - construção de 28 barragens para irrigação de uma zona agrícola na região de Planaltina, a 40 quilômetros de Brasília. A obra estava nas mãos da Construtora Gautama, vencedora da licitação realizada em 2001. Quatro anos depois, no entanto, o projeto continuava no papel. A ¿importância ambiental¿ da iniciativa teria cativado Passos.

Ignorando um abaixo-assinado de 50 produtores rurais da região contrários à construção das barragens, o então secretário de Agricultura liberou a realização do estudo de impacto ambiental da obra. ¿No meu período, o único valor que paguei à Gautama foi R$ 148 mil para esses estudos.¿ Também é verdade, porém, que cuidou pessoalmente de injetar dinheiro muito além dos R$ 148 mil na obra.

Em abril de 2006, Passos renunciou ao cargo para concorrer à reeleição - com 20.431 votos, foi o 11º parlamentar mais votado do Distrito Federal. Ao voltar para a Casa, conseguiu aprovar uma emenda de R$ 3,9 milhões para a obra. E fez questão de telefonar para a diretora-financeira da Gautama, Fátima Palmeira, para avisar: ¿Eu aprovei R$ 3,9 milhões de emenda lá na Câmara, de emenda minha.¿ Fátima comemorou: ¿Puxa, que bom!¿

Na semana passada, com um terço enrolado na mão esquerda (diz-se devoto do Divino Espírito Santo), o deputado desabafou. ¿Eu costumo dizer aos jornalistas e aos amigos que a mim o direito da dúvida não é dado, em função de eu ser um homem estigmatizado, por tudo que já sofri, por tudo pelo qual já fui atacado. A mim não é dado o direito da dúvida. Portanto, o meu zelo sempre foi redobrado.¿