Título: Pupilo de Roriz acumula escândalos
Autor: Tavares, Bruno
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/05/2007, Nacional, p. A13

Em meio a figuras de expressão nacional investigadas e presas pela Operação Navalha da Polícia Federal, um nome politicamente menos sonoro explica melhor a intimidade promíscua dos parlamentares com licitações, orçamentos de obras públicas e empreiteiras. Aos 43 anos, o deputado distrital Pedro Passos Filho (PMDB) é o personagem que ganhou notoriedade rara para um político jovem e com apenas cinco anos de vida pública.

No Distrito Federal, a fama desse mineiro ¿educado e de hábitos refinados¿, segundo seus próprios adversários, não vem exatamente dos projetos de lei propostos na Câmara Legislativa ou da defesa de bandeiras políticas. Passos tem uma trajetória alicerçada em escândalos e, até hoje, sobreviveu impune.

Na Operação Navalha, é protagonista de um lance emblemático: o do secretário do Executivo que tira da gaveta uma obra da Construtora Gautama e, na volta ao Legislativo, faz uma emenda para a mesma obra. Falante e pego nas escutas telefônicas realizadas pela Polícia Federal, Passos não se constrange e oferece como justificativa para as conversas altamente comprometedoras a versão de que tratava com a Gautama da venda de cavalos.

A Operação Navalha bateu à porta de Passos na manhã no dia 17. Às 6 horas, o deputado, a mulher e os três filhos (duas meninas e um jovem estudante de direito) foram acordados por agentes federais na mansão do Lago Norte, área residencial nobre na capital federal. Depois de ter a casa revirada, foi preso em flagrante e levado para a carceragem da Superintendência da Polícia Federal em Brasília. A acusação: formação de quadrilha.

Ao longo de quase dois anos de investigação, a Operação Navalha interceptou dezenas de conversas em que Passos aparece tratando de negócios com Zuleido Veras e Fátima Palmeira, respectivamente dono e diretora-financeira da Construtora Gautama. A empresa baiana é apontada como a principal articuladora do suposto esquema de desvio de recursos públicos por meio de fraudes em licitações.

¿Eu preciso conversar com você pessoalmente, para você tornar a me explicar direitinho até quanto dá. Como é que é? Porque tá lá o orçamento e tá autorizado para a gente fazer¿, diz o deputado, num dos diálogos com Fátima. Para a PF, as escutas indicam que Passos recebeu propina para facilitar a liberação de recursos para obras na bacia do Rio Preto. Ele nega. Diz que as conversas, ¿pinçadas de forma maliciosa¿, se referiam a dívidas da venda de cavalos. Curiosamente, a palavra cavalos jamais foi mencionada nos diálogos.

Pedro Passos é, de fato, um pecuarista bem-sucedido. Seu haras, o Lumiar, é tido como o maior do Centro-Oeste em qualidade do plantel. Bisneto de fazendeiros, ele deixou Araxá (MG) ainda jovem. Aos 18 anos, derrotou 3.800 candidatos e foi aprovado num concurso para fiscal do Banco do Brasil em Posse (GO). Dois anos depois, licenciou-se para exercer a atividade de corretor e construtor. Fez fortuna ao lado dos quatro irmãos, Alaor, Márcio, Eustáchio e Lea.