Título: Mais difícil do que parece
Autor: Ming, Celso
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/05/2007, Economia, p. B2

Ao contrário do que vai pensando tanta gente, não deverá ser tão fácil a decisão do Copom na reunião agendada para o dia 6.

A aposta do mercado é de que, desta vez, haverá um corte de meio ponto porcentual que derrubará os juros básicos (Selic) para 12% ao ano.

Essa aposta se baseia em dois pressupostos. O primeiro é o de que a última reunião do Copom, quando 3 dos 7 diretores votaram num corte maior do que o de 0,25 ponto que acabou saindo, já passou o sinal de que o maior afrouxamento monetário foi apenas adiado para a reunião seguinte.

O segundo pressuposto é o de que, de lá para cá, as coisas melhoraram substancialmente, mais do que o suficiente para quebrar as resistências dos mais renitentes membros do Copom. É só conferir: o dólar rolou para abaixo dos R$ 2 e isso significa que o produto importado está chegando ainda mais barato para o mercado interno, ajudando a controlar a inflação; a própria inflação vai dando mostras de que se está acomodando abaixo do centro da meta, apesar do notável aumento do consumo; o prêmio de risco cobrado pelos investidores para ficar com a dívida brasileira nunca foi tão baixo (143 pontos no fechamento de sexta-feira); as agências internacionais de análise de risco colocaram a dívida brasileira na ante-sala do grau de investimento; independentemente disso, o mercado está se antecipando e derrubando os juros de longo prazo; não há nenhum indício de que alguma coisa ruim com força de virar o jogo esteja sendo engendrada no mercado global; a produção e o comércio mundial seguem tendo excelente desempenho, conforme atestam os informes dos organismos oficiais.

Mas, para desvendar o que irá acontecer, é equivocado olhar apenas para a catadupa de boas notícias. É importante passear pelo que vai na cabeça de quem toma a decisão.

E o que os conservadores diretores do Copom irão deliberar é se um corte de meio ponto não vai jogar combustível demais numa demanda interna que eles já consideram aquecida. Seu horizonte não é este ano, mas o próximo, cuja meta de inflação repete os 4,5% deste ano e que vai receber o fluxo que ainda está no dinheiroduto.

A questão principal é que, se é para decidir por um corte de meio ponto, é preciso contar com que ele se repetirá uma ou duas vezes. O Banco Central não gosta de trabalhar com aumentos e reduções freqüentes de velocidade. Prefere prolongar a marcha em curso, para não confundir os agentes econômicos. Isso sugere que, uma vez cravado um corte de meio ponto agora em maio, no fim do ano os juros já terão caído para algo em torno dos 10,5% (o mercado aposta em 10,75%).

Os de sempre dirão que estes ainda seriam juros altos demais, especialmente quando comparados com os vigentes em outros países emergentes.

A diferença é que a inflação deste ano ficará em torno dos 3,5%, o que estaria encurralando os juros reais à casa dos 7,5%, um portento no histórico brasileiro, para um quadro geral de ¿demanda robusta¿, como vêm insistindo os papéis do Copom.

O mais provável é que a decisão seja mesmo o corte de meio ponto. Mas, como aconteceu na reunião anterior, ele pode manter rachada a mesa do Copom.