Título: BC paga caro para conter avalanche de dólares
Autor: Graner, Fabio e Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/05/2007, Economia, p. B9

A queda da cotação do dólar em relação ao real cria problemas para setores industriais, como os de calçados e têxteis, e já tem reflexos negativos também no governo. As operações financeiras feitas pelo Banco Central (BC) para enfrentar a avalanche de dólares que entra no País estão gerando ineficiências na administração da dívida pública. Desde que partiu para uma estratégia mais agressiva de atuação no mercado cambial, na segunda metade de abril, o BC interrompeu, pelo menos momentaneamente, os bons resultados do Tesouro Nacional na melhora do perfil da dívida interna e impôs custos fiscais não desprezíveis ao País.

A percepção de uma piora no perfil da dívida é resultado dos leilões do chamado swap cambial reverso, operação que equivale a uma compra de dólares pelo BC que, em contrapartida, assume uma dívida indexada à taxa de juros básica, a Selic. A participação desses papéis no estoque da dívida passou de 38,75% em março para 39,57% em abril. Atualmente, a dívida está em R$ 1,15 trilhão.

Essas operações também têm causado prejuízo direto aos cofres do BC. De janeiro a abril o banco pagou R$ 2,057 bilhões ao mercado nos ajustes diários desses contratos , sendo R$ 325 milhões somente em abril. Em maio, o prejuízo deve crescer porque o BC já vendeu R$ 5,4 bilhões de contratos de swap e o dólar continua caindo.

Outro instrumento para tentar conter a queda do dólar é a compra da moeda no mercado à vista. Para viabilizar as aquisições, o BC emite dívida em reais. O custo fiscal dessa operação corresponde à diferença entre taxa de juros interna, de 12,50% ao ano, e a externa, de 5,25% ao ano. Além disso, deve-se somar a desvalorização do dólar, que diminui as reservas.

O economista Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor de Política Monetária do BC, estima que essa equação provoca prejuízo de 1% do PIB brasileiro ao ano, mais de R$ 20 bilhões. Outra conseqüência é que a compra de reservas tem elevado a disponibilidade de reais no mercado que, para não provocar inflação, precisa ser ¿enxugado¿ com ¿operações compromissadas¿. O problema é que o BC retira reais do mercado em troca de títulos que tem em sua carteira, em operações de prazo curto.

Isso dificulta o alongamento da dívida pública, já que os investidores têm a opção de ficar em uma operação de alta rentabilidade em prazo curto. O estoque de operações para enxugamento de liquidez passou de R$ 60 bilhões em dezembro para R$ 115,7 bilhões em abril.

O economista do Itaú, Joel Bogdanski, é contrário ao excesso de intervenções do BC, mas considera que o que se fez até agora é pouco para causar uma deterioração grave do perfil da dívida e mudar a percepção favorável sobre a trajetória do endividamento público no Brasil.

O BC avalia que a política de acumulação de reservas é bem-sucedida e traz benefícios: redução do risco país e, em conseqüência, menor custo de financiamento externo e interno do Tesouro. O economista Amir Khair lembra que o quadro de valorização do real não pode ser visto só pela Selic, deve ser analisado em um contexto de queda global do dólar e de melhora da confiança no Brasil. Por conta dessa tendência, avalia, o BC ¿joga dinheiro fora¿.