Título: Vavá já foi acusado de fazer lobby para empresários
Autor: Macedo, Fausto e Tavares, Bruno
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/06/2007, Nacional, p. A4

Genival Inácio da Silva, o Vavá, irmão mais velho do presidente Lula, já se tornou figura fácil no noticiário. Funcionário público aposentado, ex-metalúrgico e operário, ele foi acusado, em 2005, de ter montado um escritório para intermediar pedidos de empresários com prefeituras petistas, estatais e órgãos do governo federal. Mesmo alheio às atividades do irmão, o presidente teve muito trabalho para contornar a crise. ¿Meu pai é aposentado da prefeitura, não tem nenhum negócio¿, disse ontem, Edson Inácio Marin da Silva, filho de Vavá.

O escritório funcionaria no 3º andar de um prédio comercial de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, histórico reduto petista. Com a ajuda de três funcionários, três linhas telefônicas e quatro computadores, Vavá teria encaminhado pedidos de empresários interessados em trabalhar com o governo - entre os órgãos procurados pelo irmão do presidente estariam a Caixa Econômica Federal e a Secretaria-Geral da Presidência da República. Na época, Vavá confirmou o recebimento dos pedidos, mas negou ter aceitado dinheiro.

Assim que a denúncia foi publica pela revista Veja, líderes da oposição na Câmara e no Senado exigiram a abertura de três comissões parlamentares de inquérito (CPIs) para apurar o suposto tráfico de influência. Irritado com a notícia, Lula telefonou pessoalmente para o irmão a fim de repreendê-lo. ¿Você não pode fazer isso¿, teria dito o presidente, segundo relato de auxiliares no Palácio do Planalto. ¿Ninguém da minha família está livre de sofrer acusações. O problema é a falta de provas. Até o momento nenhuma prova foi apresentada.¿

No rastro das denúncias, descobriu-se ainda que o trabalho de Vavá no ABC havia rendido audiências da Federação Brasileira dos Hospitais com o assessor especial de Lula, César Alvarez, e de um empresário da construção com o diretor de Operações e Logística da Petrobrás Distribuidora (BR), Edimilson Antonio Dato Sant¿Anna.

BINGOS

O nome de Vavá também circulou na extinta CPI dos Bingos. Parlamentares de oposição tentaram, por diversas vezes, ouvi-lo sobre sua suposta atuação no tráfico de influência. Sem sucesso, a oposição tentou uma cartada para conseguir intimar o irmão do presidente. Em abril de 2006, o senador Almeida Lima (PMDB-SE) protocolou requerimento com 34 assinaturas - 7 além do necessário - para investigar a família do petista e suas relações com o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto (ex-tesoureiro de campanha de Lula que teria pago dívida de R$ 29 mil do presidente com o partido). Mesmo sem ter sido instalada, a investigação foi batizada de ¿CPI do Lula¿.

Entre as ações sob suspeita de Vavá também estaria a tentativa de aproximar da Petrobrás o empresário Emídio Mendes, um dos acionistas controladores do Riviera Group. Os dois chegaram a se reunir com dirigentes da Petrobrás, em 2005. Na ocasião, a Petrobrás confirmou o encontro, mas negou a existência de lobby.

O Riviera Group é um conglomerado que atua nos setores imobiliário, turístico e energético e vem tentando fechar negócios com a Petrobrás. Uma semana após o encontro com o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, Mendes esteve no Rio, em visita à sede da Petrobrás. De novo, Vavá estava junto. O objetivo do encontro era tratar da assinatura de um contrato entre a estatal brasileira e a Nacional Gás, uma empresa do grupo Riviera.

Em 2006, a Polícia Federal investigou indícios de sonegação fiscal, ocultação de bens e lavagem de dinheiro supostamente cometidas por um empresário de São Sebastião, litoral norte de São Paulo, ligado ao então prefeito Juan Pons Garcia (PPS). Garcia era suspeito de tentar mudar a lei de uso do solo e o Plano Diretor da cidade para favorecer o Riviera Group.