Título: Tuma ouve lobista ligado a Renan
Autor: Samarco, Christiane e Oliveira, Clarissa
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/06/2007, Nacional, p. A6
O corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), adiou para hoje, às 16 horas, o depoimento de Cláudio Gontijo, lobista da construtora Mendes Júnior. Gontijo é suspeito de ter feito pagamentos em nome do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para a jornalista Mônica Veloso, com quem Renan tem uma filha de três anos.
O depoimento, que estava previsto para ontem, precisou ser remarcado porque o corregedor sofreu uma crise hipertensiva. Ele foi internado para observação no Instituto do Coração (Incor), em São Paulo.
Tuma quer ouvir o lobista antes de redigir um relato sobre o caso envolvendo Renan - acusado de ter despesas pessoais, como a pensão da filha e o aluguel de um apartamento em Brasília, financiados pela empreiteira. A investigação é resultado de uma representação do PSOL ao Conselho de Ética.
Apesar da expectativa criada em torno do depoimento, o caso vem sendo marcado por um clima de absolvição. O próprio Tuma adiantou, há alguns dias, que não possui provas de que as despesas de Renan foram pagas pelo lobista e chegou a dizer que deseja ¿absolvê-lo, não condená-lo¿. Mas frisou que, para isso, precisará checar os documentos e extratos apresentados pela defesa de Renan.
O presidente do Conselho de Ética do Senado, Sibá Machado (PT-AC), pedirá para participar do interrogatório de hoje. O petista explicou que Tuma, como corregedor, não pode apresentar oficialmente um relatório. Sibá enfatizou que ele próprio tem poder regimental para isso, concluindo pela admissibilidade ou não da representação, mas não quer tomar a decisão sozinho. Ele vai ouvir o conselho e, para fundamentar a decisão, um dos subsídios será o relato preliminar de Tuma.
ALENCAR
Além de ter recebido o apoio de diversos colegas no Senado, Renan ampliou ontem o leque de defensores. No exercício da Presidência, durante a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao exterior, o vice José Alencar manifestou o seu apoio ao senador e chegou a dizer que a situação em que Renan se encontra poderia ocorrer com qualquer um. ¿É uma coisa que pode acontecer com qualquer pessoa. E ele está agindo, na minha opinião, com muita dignidade¿, afirmou Alencar, que esteve na abertura do São Paulo Ethanol Summit, seminário organizado na capital paulista para debater os biocombustíveis.
Ele não esclareceu se a referência se aplicava à relação de Renan com Mônica ou ao suposto relacionamento do senador com a construtora Mendes Júnior. Indagado de novo, o presidente em exercício rebateu: ¿Não sou autoridade para falar no assunto. O que posso dizer é que isso tem sido objeto de verificação dentro do Senado.¿
Alencar falou, ainda, da sua amizade com Renan e recordou os tempos em que ocupava uma cadeira no Senado. Mas, depois, evitou se aprofundar no assunto: ¿Em questões como essa, a gente não pode entrar.¿
BRECHAS
A última cartada de Renan para dar por encerrada a crise, porém, não esclareceu todos os questionamentos. A primeira reação do senador, ao ser acusado de ter gastos pessoais custeados pela Mendes Júnior, foi fazer um pronunciamento. Cobrado sobre a origem dos recursos usados, entre janeiro de 2004 e novembro de 2005, para pagar a pensão da filha e o aluguel de Mônica, Renan entregou sua defesa à Corregedoria do Senado. Mas ainda restam dúvidas.
De acordo com informações da revista Época, naquele período o pagamento da pensão foi feito em dinheiro vivo, por volta do dia 5 de cada mês. Os valores, no entanto, só teriam sido sacados antes dessa data em 6 dos 21 meses avaliados.
A conclusão vem da análise de extratos bancários, declarações de Imposto de Renda e levantamento da evolução patrimonial. A denúncia original é de que Mônica retirava R$ 8 mil mensais no escritório da Mendes Júnior em Brasília.
Há outras brechas na defesa. No discurso, Renan disse que Gontijo era conhecido de Mônica, mas ela nega. Ficou a dúvida do motivo pelo qual o senador usou um lobista ligado a uma empreiteira - ainda que o dinheiro fosse seu - no episódio. Mônica alegou, ainda, que nunca houve fundo de R$ 100 mil para a educação da filha, ao contrário do que disse Renan. Por fim, o senador não se manifestou sobre as acusações de que Gontijo deixaria à sua disposição um flat em Brasília e teria colaborado em campanhas eleitorais.