Título: Chinaglia rejeita criação de CPI da máfia das obras
Autor: Oliveira, Clarissa e Madueño, Denise
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/06/2007, Nacional, p. A7

O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), rejeitou ontem a tese de que deve ser aberta uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a máfia das obras descoberta pela Operação Navalha da Polícia Federal. Chinaglia afirmou que as investigações conduzidas pela PF já se estendem há vários meses, o que torna desnecessária a abertura de nova apuração por parte do Congresso.

¿Esse trabalho da Polícia Federal está ocorrendo há vários meses, quem sabe há mais de um ano. E creio que nem o Ministério Público, nem o Congresso Nacional, nem a corregedoria, nem nenhuma outra instituição vai ter de substituir trabalho que já foi realizado¿, disse o presidente da Câmara, após participar da abertura do São Paulo Ethanol Summit, seminário sobre etanol organizado na capital paulista. ¿Eu tenho verdadeiro horror a que o Congresso Nacional passasse a ter como atitude permanente, quando há uma investigação, servir apenas como caixa de ressonância.¿

¿Se amanhã houver necessidade de investigar obras públicas, se houver necessidade de fazer qualquer tipo de investigação, a CPI é um instrumento poderoso¿, observou. ¿E é tão importante que acho que devemos preservá-la para momentos importantes.¿

Indagado se as contribuições de empreiteiras para as campanhas eleitorais inibem de alguma forma a criação da comissão, o presidente da Câmara saiu em defesa do financiamento público a candidatos: ¿Enquanto vale a atual legislação, ou se vai para caixa 2 ou para o financiamento do qual se presta contas.¿

Chinaglia acrescentou que, se considerada a segunda alternativa, é natural que ¿aqueles que têm condições, notadamente os empresários¿, contribuam. ¿Não posso admitir que nós criminalizemos a democracia com suposições que, eu diria, vão exatamente contra a representação popular. Acho que isso é um desserviço.¿

Assim como boa parte dos deputados da atual legislatura, Chinaglia se elegeu com diversas contribuições de empresas ligadas ao setor de construção. Prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que sua campanha recebeu R$ 412,5 mil de empreiteiras, 29% do total.

OTIMISMO

O pedido de criação de uma CPI para investigar a máfia das obras deverá ser protocolado amanhã, garantem deputados que recolhem assinaturas de apoio. Segundo Júlio Delgado (PSB-MG), um dos integrantes desse grupo, faltam só três assinaturas de deputados.

O mínimo exigido para abertura de uma CPI mista é de 171 assinaturas de deputados e 27 de senadores. No Senado, já foram obtidas 29 assinaturas. A meta do grupo é conseguir 180 assinaturas na Câmara, pelo menos, mas a pressão do governo tem dificultado a obtenção de apoio. A previsão de Delgado é atingir o número mínimo ainda hoje. ¿Vamos trabalhar para ter uma margem de segurança. Temos até a manhã de quarta-feira para isso¿, disse.