Título: Putin diz ser 'verdadeiro democrata'
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Fonte: O Estado de São Paulo, 05/06/2007, Internacional, p. A17
Em meio às crescentes críticas em relação à democracia na Rússia, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que é o 'único verdadeiro democrata' do mundo. Putin, que participa a partir da amanhã da cúpula do G-8 na Alemanha (leia mais na página B9), aproveitou a conversa com os jornalistas para voltar a criticar as políticas americanas e européias.
Defendendo sua posição como 'único democrata', Putin enumerou os problemas existentes nos EUA. 'Veja o que a América do Norte criou: tortura, sem-teto, Guantánamo, prisões sem processos judiciais', afirmou. O presidente russo também citou repressões a protestos na União Européia, incluindo a morte de um manifestante em uma 'capital européia'. A menção é uma clara referência à morte de um ativista pró-Rússia na Estônia em abril, durante violentos protestos contra a retirada de um monumento soviético.
A alguns meses das eleições parlamentares russas, marcadas para dezembro, Moscou vem aumentando a repressão a jornais independentes, partidos de oposição e manifestações contra o governo. O líder da ONG russa Pelos Direitos Humanos e crítico feroz de Putin, Lev Ponomarev, foi convocado ontem pelo serviço secreto russo (FSB) para explicar sua suposta posição extremista. As autoridades russas têm usado a lei contra o extremismo do país para deter e interrogar membros da oposição. Na entrevista com os jornalistas europeus, realizada na sexta-feira e cuja íntegra foi divulgada ontem, Putin defendeu a ampliação dos mandatos presidenciais no país, que passariam de quatro para cinco ou sete anos.
Respondendo à ameaça de Putin, divulgada no domingo, de que a Rússia apontará seus mísseis para a Europa , o porta-voz da Otan, James Appathurai disse ontem que os comentários de Moscou são 'pouco produtivos e não são bem-vindos'. A secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, também afirmou que as declarações de Putin não 'ajudam a ninguém'. A ameaça do presidente russo foi uma resposta ao plano americano para instalar um escudo antimíssil na Polônia e na República Checa. Washington alega que o escudo protegeria contra um eventual ataque iraniano. Moscou, no entanto, vê o plano americano como uma ameaça à sua soberania na região e acusa os EUA de iniciar uma corrida armamentista na Europa. Durante o G-8, Putin terá uma reunião particular com o presidente americano, George W. Bush. O presidente russo visitará Bush nos EUA nos dias 1 e 2 de julho.