Título: Queda dos juros está lenta, diz Soros
Autor: Kuntz, Rolf
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/06/2007, Economia, p. B1

O Brasil poderia crescer mais velozmente se os juros estivessem mais baixos, disse ontem o investidor George Soros, atualmente envolvido num projeto de US$ 900 milhões para produção de etanol no Brasil. 'Acho que a redução dos juros tem sido muito lenta', afirmou, pondo mais combustível no debate, às vésperas de mais uma decisão do Comitê de Política Monetária (Copom).

Soros visitou ontem o ministro Guido Mantega no escritório paulista do Ministério da Fazenda. Mantega tem sido um crítico permanente da política de juros do Banco Central. Quanto à situação brasileira, foi a única ressalva do financista, conhecido internacionalmente como o homem que em 1992 dobrou o Banco da Inglaterra ao apostar contra a libra.

Segundo ele, o Brasil tem hoje uma condição macroeconômica muito favorável e isso o torna atraente para os investidores estrangeiros. O orçamento, comentou, está 'em muito boa forma', sem que o superávit primário - o dinheiro poupado para o pagamento de juros - tenha caído como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), embora o governo tenha baixado sua meta fiscal para este ano.

Hoje de manhã, Soros será um dos expositores do Ethanol Summit, seminário de dois dias iniciado ontem e promovido pela União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica). Discutirá 'respostas para o aquecimento global', em sessão dirigida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Soros falou sobre economia brasileira, perspectivas dos mercados globais, política americana e riscos para a democracia na América Latina - incluído o presidente venezuelano Hugo Chávez -, numa entrevista concedida ontem ao Estado.

Disse estar mais preocupado com os desequilíbrios políticos, neste momento, do que com os desajustes da economia mundial. Criticou o governo do presidente George W. Bush e disse esperar que a política americana melhore depois da próxima eleição presidencial, em 2008. Neste momento, seu candidato à presidência dos Estados Unidos é o senador democrata Barack Obama, de Illinois. Mas outros candidatos democratas, como a senadora Hillary Clinton e o ex-senador John Edwards, também poderiam significar uma 'mudança positiva', diz ele.

Soros foi um dos financiadores da campanha democrata na última eleição presidencial. Poderá envolver-se novamente, admitiu, porém 'menos que em 2004'. Em 2008, segundo ele, as chances de mudança na Casa Branca serão maiores.

'Os americanos estão percebendo que foram enganados' e as últimas eleições para o Congresso, com o bom desempenho dos democratas, são um indício dessa descoberta, argumentou Soros. Ele veio ao Brasil para o Ethanol Summit e para reuniões com seus sócios em projetos no agronegócio.