Título: Paradoxos das exportações brasileiras
Autor: Lacerda, Antonio Corrêa de
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/06/2007, Economia, p. B2
O desempenho das exportações brasileiras revela alguns paradoxos. Nos últimos quatro anos elas praticamente dobraram, atingindo US$ 142 bilhões nos 12 meses acumulados até março passado. No entanto, três aspectos chamam a atenção em uma análise mais aprofundada. A perda de dinamismo das exportações brasileiras nos últimos dois anos; a perda de qualidade das exportações; e a baixa participação no mercado internacional. O momento positivo, inédito nos últimos 30 anos, vivenciado pela economia mundial no período pós 2001 propiciou o crescimento da demanda e o aumento dos preços das commodities, os quais acumularam uma alta média de cerca de 60% desde então. O Brasil foi amplamente favorecido por esse processo, especialmente nas exportações de minérios e produtos agrícolas. No entanto, as exportações de maior valor agregado foram prejudicadas pela valorização do real e a falta de uma estratégia mais agressiva. Exportações de setores de tecnologia, como celulares e automóveis, por exemplo, denotam clara reversão. Nos celulares, houve uma redução de 11,7% no primeiro trimestre deste ano comparativamente ao período semelhante no ano passado. No caso dos automóveis, a queda foi de 14,6% no acumulado dos últimos 12 meses. O câmbio valorizado tem feito com que empresas de ponta passassem a direcionar suas vendas para o mercado doméstico, em clara expansão. O Brasil como plataforma exportadora de bens sofisticados vai se tornando, infelizmente, uma realidade cada vez mais distante. Segundo o relatório mundial de exportações, divulgado pela Organização Mundial do Comércio (OMC), apesar de ter o nono maior Produto Interno Bruto (PIB), o Brasil é o 24º exportador, detendo apenas 1,1% do mercado mundial, bem abaixo de países de porte equivalente, como Coréia do Sul, com US$ 326 bilhões (11º lugar); Rússia, com US$ 305 bilhões (13º lugar); e México, com US$ 250 bilhões (15º lugar). A Alemanha se destaca no primeiro posto do ranking dos países exportadores de 2006, com vendas ao exterior de US$ 1,1 trilhão, seguida de perto pelos Estados Unidos, em segundo lugar, com US$ 1 trilhão, e China, já em terceiro, com US$ 969 bilhões. Trata-se evidentemente de uma oportunidade não suficientemente aproveitada pelo Brasil. A globalização fez com que a evolução do volume de comércio internacional (exportações mais importações) praticamente dobrasse nos últimos dez anos, atingindo cerca de US$ 20 trilhões. Há, no entanto, outros fatores favoráveis no desempenho brasileiro, como a diversificação da pauta exportadora, dos mercados de destino e sua capacidade de geração de superávits. Ao contrário de México e Rússia, por exemplo, que concentram suas exportações basicamente em petróleo, o Brasil é razoavelmente diversificado, fruto da sua industrialização. Também ao contrário do México, que vende 90% dos seus produtos para os EUA, o Brasil tem mercados de destino bastante variados: 27% para Europa, 20% para EUA, 23% para demais países da América Latina, 15% para a Ásia e outros 15% para países Árabes, África e Oceania. Outro destaque importante é que, diferentemente do México, que apesar de exportar quase o dobro do Brasil gerou um déficit comercial de US$ 18 bilhões em 2006, o Brasil tem tido superávits de US$ 46 bilhões ao ano. Diante da volatilidade da globalização das finanças, o superávit comercial se torna importante fator de autonomia nas contas externas e ampliação de reservas cambiais. Uma melhora quantitativa e qualitativa das exportações brasileiras depende de progressos na competitividade sistêmica do País, como a questão da infra-estrutura, a logística, a burocracia e a tributação, e também de ajustes nas políticas macroeconômicas, especialmente câmbio e juros, e, ainda, um maior nível de inovação das empresas. Isso é algo que pode ser fomentado com políticas públicas que integrem várias iniciativas em curso, assim como outras a serem implementadas. O objetivo deve ser a ampliação das exportações brasileiras, especialmente nas áreas mais dinâmicas do mercado mundial, e que, ao mesmo tempo, signifique maior geração de valor agregado doméstico.