Título: China: plano contra mudança do clima
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Fonte: O Estado de São Paulo, 05/06/2007, Economia, p. B9
A China anunciou ontem um plano de ação para combater o aquecimento global. As medidas incluem programas de reflorestamento, de educação pública e melhoras no sistema regulatório do meio ambiente. O governo chinês ressaltou, porém, que não sacrificará suas ambições econômicas em favor das demandas internacionais para que reduza a emissão de gases causadores do efeito estufa.
'As ramificações de limitar o desenvolvimento dos países pobres serão ainda mais sérias do que aquelas relacionadas às mudanças climáticas', disse Ma Kai, diretor da Comissão de Desenvolvimento Nacional e Reforma. O órgão é responsável pelas políticas chinesas nessa área. 'A China não vai se comprometer com nenhum objetivo de redução quantificada de emissões, mas isso não significa que não assumiremos responsabilidades em resposta às mudanças climáticas.'
A peça central do plano divulgado ontem é a melhora da eficiência no consumo de energia em 20% até 2010. Essa eficiência é medida pela quantidade de energia consumida por unidade de Produto Interno Bruto. Atualmente, 68% da energia elétrica produzida na China vem do carvão, uma das fontes que mais poluem o meio ambiente.
No plano, o governo informa que quer reduzir essa dependência por meio da expansão de usinas nucleares e fontes renováveis. Uma das metas do documento prevê que as fontes renováveis devem responder por 10% do fornecimento energético até 2010.
Ma Kai acrescentou que o país aprovou recentemente novas leis de proteção ambiental e está revendo regras com objetivo de recompensar indústrias 'limpas' e punir as altamente poluentes.
O relatório de 62 páginas traçou um panorama de como as mudanças climáticas podem atingir o território chinês. Entre as conseqüências previstas estão a elevação do nível de mares do país, o encolhimento de geleiras no Tibete, o aumento da temperatura e a expansão de desertos.
As projeções apontam que a temperatura média anual até 2020 poderia subir entre 1,3 e 2,1 graus Celsius em relação aos níveis do ano 2000. Além disso, a produção agrícola poderia ficar cerca de 10% menor até 2030.
REAÇÕES
A chanceler alemã, Angela Merkel, recebeu com cautela o plano chinês. Para ela, a China teria eventualmente de dizer 'algo sobre metas claras'. Merkel observou, no entanto, que o gesto de Pequim revela que 'ninguém pode escapar' dos temas relacionados ao meio ambiente.
O assunto é o mais importante da pauta da reunião do G-8, que será realizada entre amanhã e quinta-feira em Heiligendamm, na Alemanha. O G-8 é o grupo que reúne os países mais industrializados do planeta e a Rússia. Esse encontro, excepcionalmente, terá a presença de líderes de Brasil, Índia, México e África do Sul, além da própria China. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva será um dos participantes.
Merkel propôs reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa em 50%, tomando por base o ano de 1990. Esses números foram utilizados como referência para a elaboração do Protocolo de Kyoto. 'Há diferenças, mas cresce a opinião de que temos de nos unir contra a mudança do clima', disse ela.