Título: Arcelor encerra disputa no Brasil com cheque de R$ 10,3 bi
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Fonte: O Estado de São Paulo, 05/06/2007, Negócios, p. B18

Terminou ontem, com o desembolso de R$ 10,3 bilhões, a experiência da Arcelor Brasil na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). A empresa, que faz parte do maior grupo siderúrgico do mundo, o Arcelor Mittal, conseguiu a adesão de mais de dois terços dos acionistas minoritários à oferta de compra de ações que se encerrava ontem. Com isso, fechou seu capital.

A operação pôs fim a uma longa disputa entre a Arcelor Mittal e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que começou logo após a Mittal acertar a compra da Arcelor, por cerca de 27 bilhões, em meados do ano passado. A CVM queria que a empresa fizesse aos minoritários no Brasil a mesma oferta feita aos europeus. Mas a Arcelor Mittal argumentava que, pelas leis brasileiras, ela não precisaria fazer a oferta, já que a operação não consistia em troca de controle - pelo acordo fechado na Europa, a Mittal não poderia ter mais de 45% das ações da Arcelor.

Como a CVM não aceitou os argumentos, a empresa acabou tendo de fazer a operação. Com isso, o desembolso da Mittal pela Arcelor ficou ainda maior - além dos 27 bilhões na Europa, a empresa teve um gasto de mais 4 bilhões no Brasil.

De acordo com a Bovespa, foram negociadas ontem 191.324.913 ações ordinárias da Arcelor Brasil, em 1.901 negócios. Os acionistas podiam escolher entre receber o valor de R$ 10,82 e 0,3568 ação ordinária classe A de emissão da Arcelor Mittal por ação da Arcelor Brasil ou R$ 53,89 em dinheiro. As ações da empresa encerraram o pregão de ontem exatamente em R$ 53,89, uma alta de 0,73% em relação à sexta-feira.

O preço final acabou ficando ligeiramente superior ao estimado pelo grupo em abril (R$ 51,27 por ação). Ficou também 62% maior que a primeira oferta apresentada, em outubro de 2006, de R$ 33. A liquidação financeira da operação ocorrerá em 8 de junho para a opção de pagamento em dinheiro e em 26 de junho para o pagamento misto. Segundo estimativa da corretora Brascan, o preço das ações subiu cerca de 84% desde o anúncio de compra da Arcelor pela Mittal.

ARGUMENTOS

A Arcelor Mittal tentou de todas as formas evitar a oferta aos minoritários no Brasil. O próprio presidente mundial e maior acionista do grupo, Lakshmi Mittal, esteve no País em agosto do ano passado para tentar mudar a decisão da CVM. À época, mostrou-se confiante. 'Apresentamos argumentos muito fortes', disse ao sair de uma reunião na CVM. 'Estamos bem assessorados pelos nossos advogados e temos um recurso consistente.'

Os argumentos, porém, não foram suficientes para convencer a CVM, que manteve a obrigatoriedade da oferta. A Arcelor Mittal recorreu ao colegiado da CVM, órgão máximo dentro da autarquia. Mas, no final de setembro, o colegiado anunciou que mantinha a decisão inicial. A opção que restava à empresa seria recorrer à Justiça, mas ela preferiu acatar a decisão e disse que faria a oferta.

No final de outubro, a Arcelor Mittal apresentou sua primeira oferta, de cerca de R$ 33 por ação. A proposta era inferior até mesmo ao valor das ações à época - na casa dos R$ 39. A empresa argumentava que, para chegar ao valor econômico por ação para os minoritários, dividiu-se 'o valor econômico pelo número de ações da Arcelor Brasil, excluindo-se as ações em tesouraria'.

No início deste ano, a CVM refutou os argumentos e exigiu que a proposta levasse em conta apenas o valor de mercado da empresa. Com isso, a oferta superaria a casa dos R$ 50. Novamente a Arcelor Mittal recorreu ao colegiado, e novamente perdeu o recurso. Em abril, a empresa disse que faria a oferta pretendida pela CVM. Mas que fecharia o capital da Arcelor Brasil.