Título: Novo escândalo esquenta clima no Congresso
Autor: Oliveira, Clarissa
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/06/2007, Nacional, p. A9

A notícia de que o irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi indiciado em decorrência da Operação Xeque-Mate da Polícia Federal repercutiu ontem tanto entre integrantes da base aliada quanto na oposição ao governo. Ainda pela manhã, o presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), já admitia que o suposto envolvimento de Genival Inácio da Silva, o Vavá, com a máfia dos caça-níqueis poderia abrir margem para uma disputa política. ¿Não conheço o fato, mas é previsível que haja disputa política em torno do tema. É um atrativo para a imprensa e para a oposição¿, disse Chinaglia.

O presidente da Câmara afirmou que cabe ao próprio Vavá responder pelos problemas que o atingem, por se tratar de um ¿cidadão¿. Mas defendeu respeito com o presidente da República. ¿Quando, na crise passada, deputados e senadores agiram de forma desrespeitosa, a resposta veio nas urnas. Sou contra generalizações indevidas¿, ressaltou.

Do lado da oposição, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), apoiou-se exatamente nessas crises para afirmar que as suspeitas que pesam sobre o irmão do presidente ajudam a criar um cenário ¿que não casa com a democracia no longo prazo¿. Segundo ele, o atual governo já atravessou ¿uma série de escândalos¿ e precisa esclarecer episódios como esse. ¿Explicações devem ser dadas sim¿, cobrou o senador, insistindo em que não se trata de ¿estigmatizar¿ Vavá, como ¿o PT faria¿ se estivesse na oposição. ¿Encaro essa questão sem nenhum oportunismo. Para mim, trata-se de um indiciado como qualquer outro¿, disse Virgílio.

Com um discurso semelhante ao utilizado pelo próprio Lula para defender Vavá, o presidente em exercício José Alencar disse duvidar de seu envolvimento com a máfia dos caça-níqueis. ¿Sinceramente, conheço o Vavá. Não acredito que o Vavá esteja envolvido com coisas desse tipo¿, afirmou o vice-presidente, que está no exercício do cargo em decorrência da viagem de Lula ao exterior.

Ainda em uma referência a Lula, Alencar disse que a determinação do presidente é de que os 190 milhões de brasileiros sejam tratados de forma igual pela Polícia Federal. ¿A força da Polícia Federal de investigar está mantida. É preciso que as coisas que desrespeitam a lei tenham fim. Sem a lei não tem salvação¿, afirmou.

Apesar de tratar o assunto com cautela, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que, se a Justiça autorizou uma busca na casa do irmão do presidente, algum indício justificou a decisão. ¿Se a Justiça autorizou, deve ter algum elemento para autorizar¿, disse Fernando Henrique, logo após participar de um seminário em São Paulo.

Indagado, ele disse que Lula age corretamente em ¿não proteger os dele¿. ¿Acho que não deve proteger mesmo.¿ O ex-presidente evitou, contudo, se aprofundar. Disse que desconhece os detalhes do caso e não acha ¿correto¿ fazer especulações sobre um fato do qual não sabe ¿nada a respeito¿.