Título: Produção cai. E juro pode ir a 12%
Autor: Dantas, Rodrigo e Xaveir, Luciana
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/06/2007, Economia, p. B1

O resultado da produção industrial de abril, que caiu 0,1% ante março (em termos dessazonalizados), reforçou o otimismo da corrente de mercado que espera que o Comitê de Política Monetária (Copom) corte a Selic, a taxa de juros básica, em 0,5 ponto porcentual na reunião que termina hoje. Com isso, ela iria de 12,5 para 12%. 'O resultado sinaliza que a recuperação da atividade ainda acontece de forma moderada', disse ontem o economista-chefe da Votorantim Asset Management, Fernando Fix, à Broadcast, serviço da Agência Estado.

Na comparação com abril do ano passado, a produção industrial cresceu 6%, mas tanto num critério como no outro o resultado ficou aquém da média das expectativas de mercado. Em levantamento da Agência Estado realizado na sexta-feira com 60 instituições, 44 projetaram um corte de 0,5 ponto na Selic; 16 apostam em 0,25.

Alexandre Pavan Póvoa, diretor executivo do Modal Asset Management, está entre os que prevêem um corte de 0,5, mas considera que 'essa será uma das reuniões mais difíceis dos últimos tempos'. Ele nota que, desde outubro de 2006, a inflação acumulada em 12 meses está em torno de 3%, bem abaixo da meta de 4,5%. E, além disso, a valorização do câmbio dá ao BC mais segurança sobre o bom comportamento da inflação.

Póvoa reconhece, porém, que os dados da atividade econômica, mesmo levando em consideração a produção industrial de abril, não ajudam na decisão de cortar 0,5 ponto. Ainda repercutem no mercado números como a alta de 11,5% nas vendas do varejo em março, ou, como nota o economista-chefe do ABN Amro para a América Latina, Alexandre Schwartsman, a ocupação da capacidade industrial de 82,6% em abril em termos dessazonalizados, o nível mais alto da série da Confederação Nacional das Indústrias (CNI).

Schwartsman, ex-participante do Copom, acrescenta que mesmo a média móvel de três meses daquele indicador está em 82%, perto do recorde de 82,3%. 'Eu não aceleraria o ritmo dos cortes (atualmente em 0,25) nem morto.' Pelo raciocínio dele, a economia está acelerando e o impulso monetário representado pela forte queda da taxa de juro real desde o segundo semestre de 2006 (no embalo dos cortes da Selic) ainda está longe de ter sido esgotado. A maioria do mercado aposta que a decisão de hoje do Copom não será unânime.