Título: Para IBGE, indústria mostra 'acomodação'
Autor: Farid, Jacqueline
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/06/2007, Economia, p. B3

Após seis meses de expansão, a indústria apresentou queda de 0,1% na produção em abril ante março. Para Silvio Sales, chefe da coordenação de indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o recuo mostra apenas uma 'acomodação' após um período de crescimento e não indica reversão na tendência de crescimento do setor. Na comparação com abril do ano passado, houve aumento de 6%, o maior apurado pelo IBGE ante igual mês de ano anterior desde junho de 2005.

Edgard Pereira, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), concorda que 'não há motivo para preocupação' nessa queda. Segundo Sales, o recuo é 'muito mais como uma acomodação após seis meses de crescimento do que uma inversão de tendência ou algo do tipo'. 'O crescimento nunca vai ser linear, em algum momento há uma acomodação.'

Para Pereira, a indústria 'parece ter consolidado um padrão de crescimento nos primeiros quatro meses de 2007 correspondente a uma taxa anual de 4%', acima da expansão média dos dois anos anteriores, de 3%. Ele avalia que os dados recentes de sondagem de empresários permitem manter o otimismo em relação a uma nova aceleração da indústria nos próximos meses.

Marcela Prada, analista da Tendências Consultoria, também recebeu com tranqüilidade o resultado. Para ela, 'o resultado não altera a expectativa de crescimento mais forte da produção industrial este ano'. Segundo a economista, mesmo com a queda em relação ao mês anterior, o crescimento acumulado em 12 meses subiu de 2,8%, no resultado fechado em 2006, para 3,3% no período encerrado em abril. No primeiro quadrimestre de 2007, a indústria acumulou alta de 4,3% ante igual período do ano passado.

A queda de 0,1% na produção industrial foi puxada setorialmente por alimentos (-1,9%), perfumaria e produtos de limpeza (-5,7%), material eletrônico e de comunicações (-3,4%) e refino de petróleo (-1,2%), nessa ordem.

Sales disse que não é possível perceber na série ante mês anterior quais produtos influenciaram esses segmentos, mas, no caso de material eletrônico e comunicações, ele acredita que o impacto negativo tenha sido dado por telefones celulares e televisores. No que diz respeito ao refino, pode ter havido reflexo de paralisações em algumas plataformas de petróleo.

CÂMBIO

Apesar do forte aumento na produção ante abril do ano passado - resultado beneficiado pelos dois dias úteis a mais neste mês em 2007 -, dois segmentos que estão sofrendo efeitos negativos do câmbio deram os principais impactos de queda para a produção industrial em abril nessa base de comparação.

A produção de material eletrônico e de comunicações recuou 14,1% no período, sob influência negativa de celulares e televisores. A produção de celulares caiu 12,9% no mês e a de eletrodomésticos da linha marrom (que inclui televisores) recuou 14,8%. O segundo maior impacto de queda foi dado pela indústria de madeira (-8,6%).

Sales disse que há efeito do câmbio sobre esses segmentos, mas não exclusivamente, já que a produção de televisores sofre também com a base de comparação elevada de 2006, quando as vendas aumentaram por causa da Copa do Mundo.

Entre os segmentos pesquisados, as maiores influências positivas para a produção ante abril de 2006 foram de máquinas e equipamentos (20,5%) e veículos automotores (11,2%).

INVESTIMENTOS

A produção de bens de capital, que sinaliza investimentos, também mostrou queda em abril ante março (-1,2%) mas, para Sales, neste caso também houve uma acomodação. Ante abril do ano passado, essa categoria cresceu 17,4%, acumulando expansão de 15,4% no primeiro quadrimestre.

Em relação a abril de 2006, todos os segmentos dentro dessa categoria mostraram forte expansão nessa base de comparação: para indústria (23,2%); para agricultura (39,4%); para transporte (13,3%); para energia (20,6%); para construção (23,3%) e para uso misto, incluindo computadores (com 12,8%).