Título: Lula reclama de pergunta sobre ligações de seu irmão com máfia
Autor: Marin, Denise Chrispim e Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2007, Nacional, p. A4

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva preferiu se esquivar e reagiu com certa irritação, ontem, ao ser indagado sobre as novas revelações da Polícia Federal sobre o envolvimento de seu irmão mais velho, Genival Inácio da Silva, o Vavá, em tráfico de influência e sua vinculação com empresários do jogo investigados na Operação Xeque-Mate.

¿Não acho justo, depois de uma reunião com cinco países importantes para tratar de um assunto dessa magnitude, você me perguntar uma coisa que eu poderia falar com você na segunda-feira, em São Paulo, na terça-feira em Brasília, na quinta-feira no Rio de Janeiro, onde você quiser perguntar¿, rebateu Lula ao ser indagado sobre o assunto. ¿Eu, hoje e amanhã, quero falar exatamente do G-5 e do G-8. Na segunda-feira, você pode me perguntar o que você quiser da política interna que lhe responderei de peito aberto e de coração muito aberto.¿

Depois de sua enfática declaração em Nova Délhi, na terça-feira, de que não acreditava nas suspeitas que recaíam sobre Vavá, o presidente esquivou-se da imprensa na quarta-feira e preferiu escapar da abordagem direta de ontem. Seguiu, portanto, a estratégia montada pelo Palácio do Planalto, que tenta preservá-lo das denúncias que envolvem seu irmão.

GRAVAÇÕES

A pergunta sobre o caso Vavá havia sido acertada, em comum acordo, pelos jornalistas brasileiros. Girou em torno de uma posição do presidente sobre as novas denúncias publicadas ontem pelos principais jornais brasileiros. A primeira dá conta de que a PF dispõe de gravações nas quais Vavá cobra cifras de R$ 2.000 a R$ 3.000 do empresário do jogo Nilton Cezar Servo. Em troca, prometia conseguir benefícios para Servo - preso na Operação Xeque-Mate - em órgãos públicos federais. A segunda denúncia indica que o empresário espalhava a versão de que era amigo do presidente da República, conforme investigação da Polícia Federal.

O secretário de Comunicação, Franklin Martins, mostrou-se visivelmente contrariado ao ouvir a pergunta e manteve a cabeça baixa enquanto Lula a respondia. Horas antes, na porta da Embaixada do Brasil em Berlim, onde o presidente estava hospedado, Franklin havia reagido ao interesse dos jornalistas em obter informações sobre o caso, sob o argumento de que a denúncia contra Vavá ¿está morrendo por inanição¿ - ou seja, por falta de fatos novos expressivos. Jornalista experiente, o ministro criticou a imprensa por não fazer uma investigação paralela à da PF e supostamente aceitar o material fornecido por suas fontes sem questionamento nem averiguação.

Dois dias antes, em Nova Délhi, Franklin tivera papel decisivo em favor da entrevista de Lula sobre o mesmo episódio. No saguão do luxuoso Taj Mahal Hotel, o presidente repetira várias vezes que não acreditava que seu irmão estivesse envolvido em tráfico de influência e relatou seu ¿carinho extraordinário¿ por ele. Na ocasião, afirmara também esperar novidades sobre as apurações. Em contrapartida, fez insistentes elogios ao trabalho da PF, assinalou que o inquérito prosseguirá sem interferências e pediu ¿seriedade¿ na investigação.

DEFESA

Edson Inácio Marin da Silva, filho de Vavá, disse ontem que a família não agüenta mais a pressão com as acusações contra seu pai. Segundo ele, Vavá lhe jurou que nunca pediu dinheiro a Servo. ¿Isso não existe, disse meu pai hoje (ontem). Ele não recebe e nunca recebeu. Ele me perguntou por que iria mentir. Disse ainda que conversou várias vezes com o Nilton e até teria falado sobre dinheiro uma vez ou outra. Pode ter acontecido, mas não se lembra quando, e disse que nunca recebeu nada. Ele jura que nunca negociou para fazer isso ou aquilo a favor de algum empresário¿, afirmou Edson. E argumentou: ¿Qual a amizade que ele tem na Justiça para favorecer o pessoal do jogo?¿

Hoje, a família de Vavá deve constituir um advogado criminalista para defendê-lo em Campo Grande. O atual, Benedicto de Tolosa Filho, é amigo pessoal de Edson e atua na área administrativa. ¿Um criminalista vai ser melhor¿, disse ontem o filho, que aguarda para hoje o acesso ao processo judicial. ¿Só assim saberei do que meu pai é acusado. Creio que, se houvesse uma gravação incriminadora, já teria vazado.¿