Título: Presidente insiste em reformar ONU
Autor: Marin, Denise Chrispim e Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2007, Nacional, p. A5

A ambição do governo Luiz Inácio Lula da Silva de forçar a discussão da reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) em 25 de setembro, quando se dará a abertura da sessão de trabalhos da Assembléia Geral, colide em dois novos obstáculos. Ao conhecido imobilismo do atual secretário-geral da ONU, o sul-coreano Ban Ki-Moon, soma-se a apatia do governo de Angela Merkel, da Alemanha, no tratamento desse tema.

Ontem, em Berlim, Lula recebeu respostas escorregadias de Ban Ki-Moon. ¿Eu estou ciente da aspiração e da posição do governo brasileiro de servir como membro permanente no Conselho de Segurança¿, afirmou Ban Ki-Moon à imprensa, ao fim de seu encontro com o presidente, na Embaixada do Brasil em Berlim. ¿Eu disse a ele (Lula) que, como secretário-geral, vou tentar facilitar as consultas em andamento entre os países da ONU. Neste momento, seria desejável que as nações continuem a convergir para uma fórmula de consenso que seja democrática, transparente e representativa.¿

O secretário-geral da ONU estava preparado para enfrentar a insistência de Lula, que martelou o assunto ainda mais que o esperado, segundo diplomatas próximos ao sul-coreano. Desde que assumiu o comando da organização, Ban Ki-Moon vem indicando claramente que não tem interesse em impulsionar a reforma do conselho e apenas não atrapalhará o processo de negociação e a adoção do acordo final. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, declarou que Ban Ki-Moon ¿parece muito interessado em levar adiante o processo¿.

JANELA

Para o governo brasileiro, há uma janela de oportunidade aberta até setembro que não pode ser desperdiçada. Em boa medida, a visita oficial de Lula à Índia respondeu à necessidade de reforçar a proposta do G-4. Esse grupo de apoio mútuo é formado pelos quatro países que pleiteiam um assento permanente - Alemanha, Brasil, Índia e Japão. Permanentemente otimista, Amorim avalia que, pela primeira vez, o debate sobre a reforma ¿sai do campo das afirmações e dos discursos e começa a ser um processo de negociação¿. ¿Isso é um avanço¿, arrematou.

O chanceler, entretanto, reconheceu que a proposta original do G-4 pode sofrer alguma alteração. Em setembro de 2005, o G-4 fechara uma fórmula que previa a inclusão de seus quatro sócios entre os membros permanentes do Conselho de Segurança e de mais dois países africanos. A iniciativa enfrentou resistências regionais e nesse núcleo de poder - a França, o Reino Unido e a Itália não se animaram com a Alemanha no conselho; a China e a Coréia do Sul rejeitaram a adesão do Japão; a China e o Paquistão discordaram da inclusão da Índia; a Argentina e o México torpedearam o Brasil.