Título: Corrupção é crime hediondo, diz empresário
Autor: Assunção, Moacir
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2007, Nacional, p. A9

O empresário e líder de movimentos do terceiro setor Oded Grajew qualifica a corrupção, principalmente a praticada em nível governamental, de ¿crime hediondo¿. Na opinião de Grajew, que acaba de lançar o Movimento São Paulo: Uma Outra Cidade, para estimular a participação dos cidadãos, há pouca compreensão da sociedade sobre o verdadeiro papel dos recursos públicos na melhora da qualidade de vida. ¿Quem rouba dinheiro do povo comete crimes contra a saúde, quando contribuintes morrem na fila, e contra a educação, cada vez mais precária em todos os níveis.¿ Para ele, a saída é mudar o processo, fazendo com que a população exerça seu poder.

O caso do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), seria um mau exemplo?

Sem dúvida. Ele disse que os recursos não declarados seriam oriundos de ¿atividades agropecuárias¿, como se sonegar não fosse crime, e isso não pode ficar assim. Alguém que ocupa um cargo tão importante precisa ser muito mais cuidadoso com seus atos do que o cidadão comum. O caso é absolutamente surrealista.

Como se explica essa contaminação do processo político?

É como se fosse um câncer. A doença se espalha por todos os espaços da sociedade e pelos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. A corrupção não é culpa de ninguém em especial nem o brasileiro é mais corrupto que outros povos. O processo é que está doente e sua lógica precisa ser mudada. A situação é grave e precisamos fazer algo.

Como mudar essa lógica?

Pela exemplaridade. Precisamos desenvolver novos métodos de trabalho até para demonstrar que é possível termos outra sociedade, baseada em valores ligados à ética e à honestidade. O Movimento São Paulo: Uma Outra Cidade tem exatamente a proposta de, com sua rede de 280 entidades da sociedade civil, ajudar a desenvolver um instrumental para que o cidadão possa cobrar, com qualidade, governantes e legisladores.

Quais seriam os instrumentos?

Os governos, de uma maneira geral, não têm metas ou programas, principalmente nas prefeituras. Em todas as nações politicamente mais evoluídas, a discussão do Orçamento é o principal momento da cidadania. Aqui, não existe o hábito de debater esse tema, de grande relevância. Com isso, a sociedade não sabe onde são aplicados os recursos e deixamos os corruptos de mãos livres para agir, sem nenhum controle social. O movimento está montando tabelas de metas com a participação de cidadãos comuns, formas de acompanhar políticas públicas e indicadores que podem ser utilizados por políticos, mas cuja execução cobraremos com certeza.