Título: Lula ataca compromisso parcial do G-8 para conter efeito estufa
Autor: Chade, Jamil e Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2007, Economia, p. B1

Os líderes do G-8 (grupo dos sete países mais industrializados do mundo e a Rússia) concordaram ontem em ¿considerar seriamente¿ a adoção de metas para reduzir a emissão de gases causadores do efeito estufa. Na prática, porém, deixaram para o futuro a implementação de medidas para combater o aquecimento global, o que foi criticado por ambientalistas e pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ainda em Berlim, Lula partiu para o ataque em uma conferência de imprensa, após reuniões com líderes de outros países emergentes. Ele criticou o acordo fechado entre as nações ricas em Heiligendamm e garantiu que o Brasil não aceitará a pressão do G-8 para que os emergentes estabeleçam metas de redução de emissão de gás carbônico (CO²), posição similar à da China. Para Lula, os países ricos ¿precisam assumir a responsabilidade de ajudar a despoluir o planeta que eles poluíram¿.

As propostas do presidente americano, George W. Bush, segundo Lula, são ¿voluntaristas¿ e ¿inaceitáveis¿. Lula também alertou que o prazo de 2050 marcado para a redução de emissão de CO² significa que ¿ninguém fará nada até 2049¿. ¿Cinquenta anos é muito tempo e vai permitir que os que poluem continuem poluindo e não façam nada¿, atacou. ¿Vai passar tanta água debaixo da ponte e tantas revoluções tecnológicas que acho que a decisão estará superada¿, afirmou.

Outra crítica de Lula é contra a proposta de Bush de insistir em que o tema das emissões seja tratado fora do Protocolo de Kyoto. ¿Não é um avanço tentar abolir o multilateralismo e fazer um clube de amigos que se reúnem de vez em quando e cada um cumpre se quiser ou não (os compromissos). Isso não dá para aceitar.¿

Assessores do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-Moon, revelaram ao Estado que Lula, em seu encontro com o coreano ontem, deixou claro que apoiará o envolvimento da ONU no tema. ¿Nossa tese é que temos de cumprir Kyoto e fazer valer cada palavra assinada.¿

O presidente ainda ironizou Bush, alegando que o americano talvez tenha se dado conta da importância dos temas climáticos depois de assistir ao documentário de Al Gore, Uma Verdade Inconveniente. O filme trata dos perigos das mudanças climáticas e critica a política de Bush. Gore perdeu as eleições para o atual presidente americano em uma disputa polêmica.

Lula fez questão de atacar qualquer plano de estabelecer responsabilidades para os países emergentes na redução de emissões de CO², uma tese tanto dos europeus como dos americanos. A posição é a mesma adotada pelo governo da China, acusada de já ser a maior poluidora do mundo. Segundo estudos da Comissão Européia, se os países emergentes não se comprometerem a reduzir emissões, não há como evitar o aquecimento global.

¿Todos sabemos que os países ricos são responsáveis por 60% das emissões de gás e, portanto, precisam assumir responsabilidades. Os países em desenvolvimento têm o direito de crescer como os ricos cresceram e ter a mesma qualidade de vida que eles conquistaram¿, defendeu. ¿Não aceitamos a idéia de que os emergentes é que têm de fazer sacrifícios. Inclusive porque a pobreza já é um sacrifício.¿ Lula ainda acredita que a solução passa pelos biocombustíveis e, portanto, levará o tema hoje ao G-8.