Título: G-5 quer ser mais do que convidado
Autor: Chade, Jamil e Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2007, Economia, p. B3

O Brasil e os países emergentes participarão hoje do último dia da reunião de cúpula do G-8. Mas exigirão que, a partir dos próximos encontros do bloco, sejam de fato ouvidos, e não apenas convidados para um debate de menos de duas horas com os líderes da Alemanha, Itália, França, Reino Unido, Estados Unidos, Japão e Rússia. ¿Eles (ricos) precisam se sensibilizar de que quem está falando com eles não é menor que eles ¿, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, depois de encontros com China, Índia, África do Sul e México (G-5).

Ontem, em preparação à reunião com o G-8 em Heiligendamm, os países emergentes chegaram a um consenso em Berlim de que vão pressionar por três temas. O primeiro deles será o de pedir avanços nas negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC), que estão em uma fase crítica.

O segundo é para que os países ricos de fato ajudem no desenvolvimento das economias mais pobres e que as Metas do Milênio da ONU, de redução de pobreza, sejam atingidas até 2015. O terceiro pede que os países do G-8 assumam suas responsabilidades em lidar com o aquecimento do planeta.

O único problema é que o documento final do encontro já está fechado desde ontem e não leva em consideração consultas com os países emergentes. Na realidade, assessores do secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, já mostravam a declaração final do G-8 ao Estado antes mesmo de Lula se reunir com os chefes de Estado e de governo de China, Índia, África do Sul e México para montar uma estratégia de como atuar no encontro de Heiligendamm. Hoje, apenas um texto paralelo entre o G-5 e a chanceler alemã Angela Merkel ainda será divulgado (ler abaixo).

Países como os Estados Unidos hesitam em aceitar a ampliação do grupo. Neste ano, o tempo é tão curto para os países em desenvolvimento que Lula afirmou que nem sequer vai comer durante o almoço que será oferecido hoje por Merkel a todos os países. ¿Não vou nem almoçar. Quero falar. É a chance de que os países ricos ouçam coisas que nem sempre é possível ouvirem.¿Lula, junto com os demais quatro convidados, terá uma hora e meia para debater cinco temas diferentes.

O tempo ainda deverá impedir que Lula tenha um encontro com o presidente americano George W. Bush. Seus assessores acreditam que os dois poderão conversar, mas apenas informalmente.

Para Lula, não há mais como debater temas como comércio, clima ou pobreza ¿sem levar em conta a existência de países em fase de desenvolvimento como Brasil, China, Índia, África do Sul e México¿. ¿Isso se tornou humanamente impossível, seja do ponto de vista político ou econômico¿, disse.

O presidente se queixou do fato de não ser consultado na elaboração dos documentos finais da reunião e de apenas participar em um texto paralelo entre o G-5 e a Alemanha. ¿Nós somos convidados, mas não temos incidência sobre documento final¿, afirmou Lula. ¿Precisamos exigir participação na elaboração dos documentos, para que saia o que nós pensamos também¿, defendeu o presidente. ¿Certamente, não conquistaremos tudo o que queremos. Mas espero que o G-8 fique mais sensibilizado e que levem em conta que quem está falando com eles não é menor que eles. São países importantes, cada um em seu continente e que representam 42% da humanidade.¿

O chanceler Celso Amorim informou que há a idéia de que o G-5 volte a se reunir durante o ano para se preparar para a próxima cúpula no Japão, em 2008. ¿Não é satisfatório que cheguemos quando o documento do G-8 já está pronto e não temos como influir¿, disse.