Título: G-20 está disposto a flexibilizar Doha
Autor: Marin, Denise Chrispim e Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2007, Economia, p. B5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou ontem que o Brasil e o G-20 - grupo de economias em desenvolvimento que atua em conjunto na negociação agrícola - estão dispostos a flexibilizar suas ofertas de abertura do mercado industrial nas discussões da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) sob duas condições: se a União Européia abrir seu mercado para produtos agrícolas e os Estados Unidos reduzirem os subsídios a seus agricultores. Mas esse sacrifício dos países pobres e em desenvolvimento, destacou Lula, deverá corresponder ao tamanho de cada economia.

Diante do esgotamento do prazo para a conclusão da rodada no dia 30 deste mês, a necessidade de um acordo favorável ao mundo em desenvolvimento tornou-se uma das reivindicações das cinco economias emergentes - África do Sul, Brasil, China, Índia e México - ao G-8, o grupo que reúne os sete países mais industrializados e a Rússia. Essa posição será apresentada em almoço das duas frentes, hoje, no balneário alemão de Heiligendamm e será registrada em um documento que terá a assinatura também da Alemanha, coordenadora do G-8 até hoje.

¿Nós do Brasil e nós do G-20 estamos dispostos a fazer a flexibilização que for necessária nos produtos industriais. Mas todo mundo tem de saber que o sacrifício tem de ser proporcional à riqueza dos países e ao tamanho do Produto Interno Bruto (PIB) desses países¿, afirmou Lula. ¿Não peçam para os países pobres fazerem o mesmo sacrifício dos países ricos porque só o fato de ser pobre já é um sacrifício maior do que o dos países ricos¿, completou.

O presidente afirmou que é ¿descabida¿ a idéia de que os países com muito dinheiro possam conceder pesadas somas em subsídios a seus agricultores, ¿em detrimento da competitividade dos países pobres e em desenvolvimento¿. Destacou que não seria o caso do Brasil, competitivo ¿com qualquer país do mundo em se tratando de agricultura¿. Nesse exato momento, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, assoprou: ¿Fica melhor sem subsídio¿.

Mesmo com o prazo de apenas 23 dias que resta para a conclusão do acordo, ainda não há expectativa clara sobre o atendimento das exigências do G-20 pelos dois principais atores do mundo desenvolvido na Rodada. A União Européia não cravou a abertura de 54% de seu mercado agrícola nem os Estados Unidos chegaram perto da definição de um teto de US$ 12,4 bilhões ao ano para os subsídios domésticos. Mesmo uma questão fechada no final de 2005, a eliminação dos subsídios às exportações agrícolas até 2013, ainda depende da definição das economias mais ricas sobre disciplinas para a ajuda alimentar aos países pobres.

¿Para nós, está claro: o mundo rico precisa abrir mão dos subsídios e, ao mesmo tempo, precisa flexibilizar a entrada dos produtos agrícolas dos países mais pobres¿, resumiu Lula. ¿Se tudo isso estiver de acordo, nós poderemos presentear o mundo com um acordo que parecia impossível alguns anos atrás. Sem esse acordo, não adianta falar de paz, não adianta falar de terrorismo, porque a tendência é a situação se agravar.¿

Outro tema caro ao Terceiro Mundo será cobrado por Lula e pelos líderes dos outros quatro emergentes - o cumprimento das Metas de Desenvolvimento do Milênio, um compromisso no âmbito das Nações Unidas de redução pela metade da população que vive abaixo da linha de pobreza até 2015.

Ele disse ainda que a produção de biocombustíveis seria uma alternativa e uma ¿chance histórica¿ para melhorar as condições de vida nos países mais pobres. ¿É muito bonito: 190 países vão a Roma (em 2000) e assinam as Metas do Milênio, mas fica para os pobres cumprirem. E, como os pobres não têm jeito, não vão cumprir¿.