Título: Meirelles leva Copom a acelerar corte do juro
Autor: Dantas, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/06/2007, Economia, p. B7
A virada do voto do presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, deve ter sido decisiva para que o Comitê de Política Monetária (Copom) acelerasse o ritmo de cortes da Selic, a taxa básica de juros, de 0,25 para 0,50 ponto porcentual.
Essa é a visão predominante entre observadores que acompanham de perto a atuação do BC e conhecem bem o funcionamento dos sistemas de metas de inflação, adotados por vários países. Como a identidade dos responsáveis pelos votos do Copom não é divulgada, os analistas preferem manter a discrição quando falam do assunto.
Na reunião de abril, a decisão do Copom foi a de cortar em apenas 0,25 ponto porcentual a Selic, de 12,75% ao ano para 12,50%. O placar a favor do corte de 0,25 foi apertado, com quatro participantes votando a favor e três contra. Na reunião desta semana, houve uma virada, e cinco participantes votaram por 0,50, contra dois que preferiram 0,25. A Selic foi a 12%.
Observadores do Copom dão como quase certo que um dos participantes que mudaram seu voto de 0,25 para 0,50 entre as duas últimas reuniões foi o próprio Meirelles. O voto do presidente do Banco Central costuma ser muito importante em reuniões desse tipo. Na Inglaterra, por exemplo, onde as reuniões do Comitê de Política Monetária (MPC) são mensais, houve apenas três decisões unânimes nas 17 reuniões entre janeiro de 2006 e maio de 2007. Em todas as outras decisões, em que houve votos discordantes, a posição do governador do Banco da Inglaterra (Banco Central), Mervyn King, foi a que prevaleceu.
Na realidade, em linha com o que ocorre com os principais BCs do mundo, o Copom do Banco Central brasileiro também se vem dividindo com nitidez entre os campos dos ¿pombos¿ e ¿falcões¿ (¿doves¿ e ¿hawks¿, na terminologia inglesa), com Meirelles como o fiel da balança. Os pombos tendem a ter uma visão mais benigna da inflação e costumam ser mais ousados nos cortes de juros. Os falcões são muito sensíveis ao risco inflacionário, e representam a linha-dura em termos da taxa básica.
Para os analistas, o BC brasileiro está se inclinando mais para o lado ¿pombo¿. Esse processo está se dando, basicamente, pela saída e substituição de alguns falcões. O mais conhecido deles era Afonso Bevilacqua, ex-diretor de Política Econômica, que é visto como o mentor intelectual do duríssimo aperto monetário entre setembro de 2004 e junho de 2005, quando a Selic subiu de 16% para 19,75%.
Outros economistas de perfil mais conservador que deixaram o BC nos últimos anos foram Alexandre Schwartsman, economista-chefe do ABN Amro para a América Latina; Eduardo Loyo, contratado recentemente pelo UBS Pactual; e Rodrigo Azevedo, ex-diretor de Política Monetária. Fontes do mercado acham que, em abril, Azevedo foi um dos que votaram pelo corte de 0,25, junto com Meirelles, e Mário Mesquita, o atual diretor de Política Econômica, e único macroeconomista percebido como ¿falcão¿ que permanece no Copom. Na reunião da semana passada, Azevedo já não estava no BC.
Nessa última reunião, a visão é de que os macroeconomistas Alexandre Tombini, diretor de Normas, e Paulo Vieira da Cunha, diretor de Assuntos Internacionais, tenham votado por 0,50, como já provavelmente fizeram em abril. Para a corrente mais conservadora do mercado, Tombini e Vieira da Cunha são tidos como ¿pombos¿. Outra possibilidade de voto pelo corte de 0,50 é a de Mário Gomes Torós, o novo diretor de Estudos Especiais, com um perfil mais de operador, cujo voto, portanto, pode ter sido mais influenciado pela forte valorização do real.