Título: Na escola itinerante do MST, crianças já aprendem cartilha da invasão
Autor: Tomazela, José Maria
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/06/2007, Nacional, p. A9
Sob a lona, um grupo de 28 meninos e meninas repete um refrão que ensina a ¿ocupar toda terra improdutiva, resistir com organização e enfrentar para não sair¿. É hora de aula na Escola Itinerante Paulo Freire, do Movimento dos Sem-Terra (MST), no acampamento do 5º Congresso Nacional, em Brasília. São estudantes de 8 a 10 anos e acompanham os pais no evento.
Ali, enquanto os adultos discutem as formas de pressão pela reforma agrária, os garotos são preparados para a ¿luta¿. O MST informa que tem 2 mil escolas públicas em seus acampamentos e assentamentos, onde estudam 160 mil crianças. O movimento já formou mais de 4 mil professores. Entre os que atuam na escolinha itinerante, muitos se intitulam ¿educadores¿, já que, segundo o MST, nem todos têm diploma.
Maurally Fernandes, de 8 anos, canta o refrão sem saber o que significa. ¿Estou aprendendo a cantar, mas quero pintar¿, diz. Ela é uma das filhas de Adenilson Pereira Souza, assentado em São Mateus (ES), e cursa a segunda série do primeiro grau. Maria Cristina Vargas, do setor de educação do MST, diz que as aulas na escola itinerante são dadas de forma ¿mais lúdica e dinâmica¿. Ter escolas próprias foi uma forma de aproximar o ensino da realidade das crianças assentadas e acampadas. ¿Elas precisam entender o que os pais fazem e falam¿, explica Maria Cristina. Nas escolas das cidades, alega, há preconceito contra os alunos sem-terra.
O MST considera que camponeses têm o direito de construir seu projeto de ensino. Por isso passou a discutir que tipo de escola queria. Uma constatação foi de que o processo de ¿formação¿ dos militantes esbarrava na falta de escolaridade. Muitos não sabiam ler ou interpretar as cartilhas do movimento.
Um levantamento mostrou que em alguns Estados, como o Maranhão, o índice de analfabetismo entre assentados e acampados com mais de 12 anos chega perto de 50%. Segundo Cristina, mais de 50 mil aprenderam a ler e escrever nos últimos 2 anos.
Hoje, o MST lança uma campanha nacional com o lema ¿todas e todos sem-terra estudando¿. Assentados e acampados vão identificar os analfabetos para encaminhá-los para os cursos de alfabetização.