Título: Venezuela prepara retirada do FMI
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/06/2007, Internacional, p. A14

O governo da Venezuela começa a tomar medidas para deixar o Fundo Monetário Internacional, anunciou ontem o ministro do Trabalho, José Ramón Rivera. Para isso, o país terá de comprar bônus emitidos pelo Tesouro nos anos 90 que receberam a chancela do FMI. ¿Temos muito dinheiro e podemos comprar de volta esses bônus¿, disse ele.

Há cerca de dois meses, o presidente Hugo Chávez havia anunciado a intenção de abandonar o fundo, qualificado por Caracas de ¿imperialista¿ e acusado de defender os interesses dos EUA. ¿Um dos elementos mais perversos da adesão do país ao FMI é que, como os bônus foram emitidos com a aprovação do fundo, isso exige que o governo permaneça na entidade¿, explicou o ministro.

Para deixar o fundo, o governo tem duas opções. Uma delas é a de comprar os bônus por 100% de seu valor nominal. ¿O problema é que esses bônus se desvalorizaram entre 60% e 80% no mercado¿, disse Ramón Rivera. A segunda opção, que deve ser adotada pela Venezuela, é a de comprar os bônus de volta pelo preço que hoje valem no mercado internacional. Em declarações ao Estado, Ramón Rivera disse que um dos problemas é que certos papéis não podem ser comprados por governos. ¿Nesse caso, estabeleceremos um mecanismo para que terceiros possam comprar esses papéis¿, explicou. Questionado sobre quanto tempo levaria a saída do FMI, ele respondeu: ¿Apenas o tempo de comprar esses bônus.¿

Com reservas internacionais de US$ 36 bilhões graças à alta do petróleo, a Venezuela acredita ter recursos para bancar a retirada. O valor total dos papéis não foi divulgado pelo governo.

OMC

A Venezuela fez outro alerta: não aceitará um acordo na Organização Mundial do Comércio (OMC) que seja prejudicial aos interesses do país ou imposto por outros governos. ¿Um não acordo é melhor que um acordo ruim¿, disse Ramón Rivera, alertando que Caracas não está disposta a assinar um ¿acordo costurado unilateralmente por um bloco hegemônico¿. A OMC está na fase final de negociações da Rodada Doha, que permitirá a liberalização dos mercados agrícolas e de bens industriais. Desde ontem, Brasil, Índia, EUA e Europa estão reunidos em Paris para tentar aproximar suas posições.