Título: 'Benefícios são para quem está em expansão'
Autor: Tereza, Irany
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/06/2007, Economia, p. B4

Os setores mais afetados pela valorização do real ante o dólar avaliam que as medidas compensatórias anunciadas ontem pelo governo não atendem às suas necessidades. Para representantes dos chamados 'órfãos do câmbio', como fabricantes de calçados, móveis, têxteis e vestuário, as linhas de crédito com custos reduzidos e outros benefícios fiscais são importantes, mas só para empresas que estão em processo de expansão e não para aquelas cujos negócios têm se retraído em razão da perda de competitividade.

'De que adianta dar dinheiro mais barato para investir e importar máquinas se as empresas não têm custos competitivos para enfrentar a concorrência externa?', observa Élcio Jacometti, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). 'Não é hora de investir, mas de ser custo competitivo, pois as empresas do setor estão com capacidade ociosa e até fechando as portas.'

Além disso, Jacometti observa que os juros dos financiamentos oferecidos pelo governo, embora abaixo dos cobrados pelo mercado, ainda são superiores aos do mercado internacional. 'Não que eu esteja reclamando, reconheço o esforço do governo, mas as medidas anunciadas não nos devolvem a competitividade tirada pelo valorização do real'. Segundo ele, o setor enfrenta defasagem cambial de 30% em relação aos seus principais concorrentes internacionais.

Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), observa que a principal reivindicação da indústria não foi incluída no pacote anunciado ontem. 'A desoneração dos custos da folha de salários ficou para depois.'

Segundo ele, além de insuficientes, as medidas de fortalecimento dos setores intensivos em mão-de-obra estão muito distantes do que vem sendo discutido com o setor privado.

'Estamos discutindo, antes de mais nada, medidas para viabilizar o parque produtivo já instalado, por meio de redução de custos de produção, da realização de acordos de acesso preferencial aos grandes mercados mundiais e de um combate implacável ao comércio ilegal', disse Pimentel. Ele aplaudiu a mudança no sistema de tributação das importações no setor de vestuário e acessórios, o que deve reduzir o subfaturamento.

'Além de virem tarde, essas medidas são apenas paliativas', diz Álvaro Weiss, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria do Mobiliário (Abimo).

O diretor do Departamento de Pesquisas Econômicas da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Francini, diz ter dúvidas sobre a eficiência para a economia de medidas que beneficiem apenas alguns setores. Segundo ele, o maior problema para a indústria é o câmbio e beneficiar apenas alguns setores não resolve a questão.

'Sou favorável a medidas gerais porque a dificuldade é de toda a indústria'. De qualquer forma, Francini acredita que essas medidas são melhores do que nada. Para ele, a tributação de vestuários sobre quantidade é uma das medidas mais importantes do pacote porque corrige o abuso das importações subfaturadas que prejudicam o segmento de vestuário.