Título: Foco em financiamento torna pacote restrito
Autor: Tereza, Irany
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/06/2007, Economia, p. B4

O pacote do governo para mitigar os efeitos da valorização cambial sobre a indústria exportadora 'é bem-vindo, mas muito restrito', na opinião do vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Com base no anúncio de ontem, ele concordou em traçar o perfil da empresa que melhor representa o alvo das medidas: a indústria moveleira, de médio porte, com quadro de pessoal entre 200 e 300 funcionários e faturamento anual entre R$ 200 milhões e R$ 300 milhões.

Ele lembra que o pacote dá prioridade ao financiamento de investimentos, o que não é necessariamente o foco imediato da indústria que enfrenta crise em suas vendas, como o setor de calçados. 'São medidas que ajudam a manter as vendas, mas a demanda para financiamento de capital de giro ou para pré-embarque será pequena. Ainda mais em setores que sofrem forte concorrência da China e da Índia. O governo combate conseqüências, não as causas do problema', diz Castro.

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) tem análise semelhante. Para o diretor executivo do instituto, Edgard Pereira, se o governo está tentando preservar os setores intensivos em mão-de-obra, deveria mirar justamente no custo do emprego, a despeito da queda na arrecadação - fator apontado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, como inibidor de uma desoneração na folha de pagamentos. 'O objetivo declarado das medidas seria resguardar o emprego nos setores mais empregadores. No pacote preponderam medidas de financiamento e não medidas de redução de custos correntes de produção', diz Pereira. Para ele, a ausência dessa medida deixa o pacote 'muito mais fraco'.

'Esses setores da indústria trocariam tranqüilamente essas medidas por um reposicionamento da taxa de câmbio. 'Subsídios' seriam dispensáveis se a política macroeconômica fosse corretamente aplicada', avaliou.

Castro afirma que, ao justificar o motivo para não desonerar a folha, o governo admite que as empresas intensivas em mão-de-obra são mais penalizadas no Brasil. E sugere que, em vez do subsídio, surtiria mais efeito o pagamento do crédito acumulado de IPI, Cofins, PIS e ICMS. Somente de ICMS, segundo ele, o crédito a receber das empresas é de R$ 17 bilhões.