Título: Para PF, Vavá usava nome do presidente
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Fonte: O Estado de São Paulo, 10/06/2007, Nacional, p. A4

As investigações da Operação Xeque-Mate que atingiram um grupo de empresários vinculados ao mercado de caça-níqueis resvala no governo de Luiz Inácio Lula da Silva por envolver duas pessoas diretamente ligadas ao presidente: Dario Morelli Filho, seu amigo e compadre, e Genival Inácio da Silva, o Vavá, seu irmão mais velho.

Não é a primeira vez que Vavá aparece fazendo lobby no governo. Ele já foi flagrado tentando ajudar um empresário português na Petrobrás. As investigações, agora, revelam que ele não tinha uma única frente de ação. Buscava influir no Ministério da Justiça, no Superior Tribunal de Justiça (STJ), na Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) e em outros órgãos, além de ajudar o homem apontado como chefe da máfia dos caça-níqueis, Nilton Cezar Servo.

Vavá aparece em pelo menos 16 das 617 gravações telefônicas feitas pela PF - na maioria delas, falando com Servo. Pelas conversas, fica claro que Vavá usou o nome do presidente Lula para obter recursos do empresário. Numa gravação de 25 de março, Vavá afirma a Servo que Lula esteve naquele dia em sua casa, por cerca de uma hora e meia. O presidente, de fato, passou aquele fim de semana em sua residência, em São Bernardo, sem agenda oficial.

¿Eu falei pra ele sobre o negócio das máquinas lá. Ele disse que só precisa andar mais rápido, né, bicho¿, relata Vavá. E continua: ¿Eu falei com ele sobre o negócio das máquinas, né. Falou para mim pegar o rela... (inaudível) levar pra ele lá. Tá bom?¿ O acusado de chefiar a máfia insinua que é amigo do presidente. ¿Lula é meu irmão.¿

Segundo a PF, a análise da conversa indica que Vavá usou o nome do irmão para obter dinheiro de Servo, ¿que tem como principal fonte de renda a exploração do jogo de azar através de caça-níqueis em diversos Estados, como Mato Grosso do Sul, Paraná, São Paulo e Rondônia¿.

Os relatórios da PF concluem que as investidas sobre Vavá não vingaram e não há indícios de que Lula era conivente ou sabia da atuação do irmão.

DINHEIRO

Em outras conversas, Vavá aparece cobrando dinheiro de Servo e oferecendo serviço de lobby a um grupo agropecuário de Assis (SP), interessado em reverter uma decisão desfavorável no STJ. Numa conversa, Vavá cobra: ¿Ô, arruma dois pau pra eu?¿ Servo diz que estava sem dinheiro. Vavá diz: ¿Mas tem muita coisa pra ser feita.¿

No caso do STJ, dois empresários identificados como ¿André¿ e ¿Jairo¿ aparecem após terem perdido um processo estimado em R$ 6 milhões contra a usina de cana-de-açúcar Maracaí. Vavá foi orientado por Servo a se encontrar com o grupo.

Segundo uma conversa entre Servo e seu irmão Nivaldo, a idéia de prestar serviços de lobby no processo partiu do próprio Vavá. Segundo Nilton, Vavá tinha um advogado ¿do esquema¿, mas o nome não aparece.

¿Eu só quero que acompanhe. Porque o que vai acontecer. Depois que der certo, o Vavá, tonto, (vai dizer) ah, me dá R$ 10 mil, R$ 20 mil, R$ 5 mil. A conta é um negócio de R$ 1 milhão¿, comenta Servo.

Vavá foi indiciado por tráfico de influência e exploração de prestígio no Judiciário, mas foi um dos únicos a não ser preso na operação. Apesar de não ter referências se Vavá obteve sucesso no lobby no STJ ou em outros, a promessa de interferência nas decisões levou a polícia a indiciá-lo.

Apesar de buscarem ¿favores¿, os grampos revelam que os integrantes do esquema desconfiavam do poder de influência do irmão de Lula. Em várias ocasiões, criticam Vavá e o desqualificam - Servo chega a dizer que a capacidade dele como lobista era ¿limitada¿. Em outro grampo, revelado ontem pelo Estado, um interlocutor conta a Vavá que Lula queria falar com o irmão, em Brasília, e que havia uma ¿bronca¿ a resolver.

`TRANQÜILO¿

Edson Inácio Marin da Silva, filho de Vavá, disse ontem que o pai está ¿tranqüilo, mas ao mesmo tempo angustiado¿. Vavá continua trancado em sua casa, em São Bernardo, e só teria saído uma vez, na quarta-feira, quando foi ao escritório do advogado Benedicto de Tolosa Filho.

¿Não vamos procurar o Lula e ninguém de lá nos procurou também. Não houve contato nem vai haver¿, avisou Edson. A família prepara um pronunciamento para hoje. Segundo Edson, não há possibilidade de o pai ser preso: ¿Não tem motivo e nem o que sustente um pedido de prisão preventiva ou temporária.¿