Título: Nas assembléias, os velhos recursos da esquerda
Autor: Marchi, Carlos
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/06/2007, Vida&, p. A25

As assembléias dos estudantes que ocupam a reitoria desmentem que eles sejam ¿independentes¿ e que não têm lideranças fixas. A mesa que dirige a assembléia é sempre dividida por militantes de PCO, PSTU e PSOL. Postados atrás da mesa, lideranças desses partidos e do Sintusp orientam discretamente a condução dos trabalhos e segredam recadinhos nos ouvidos dos ocupantes da mesa para orientar as votações.

Todo o velho arsenal de recursos para direcionar assembléias é empregado. O mais notório é prolongar ao extremo o debate, para cansar a platéia e expurgar os verdadeiramente independentes que se aventuram na noite gelada da USP. O primeiro impasse é discutir o formato da discussão: teremos 40 oradores com 1 minuto para cada um, 30 oradores com 1 minuto e 20 segundos ou 20 oradores com 2 minutos?

A platéia, claro, simpatiza com a idéia de ter 20 oradores, exatamente a que interessa aos partidos que comandam a ocupação - ela garante que só seus oradores falarão. Na hora de definir os 20, os partidos se engalfinham para escalar os seus. Tinha sido assim nas negociações com a reitora: só uma comissão com 35 membros pôde representar os grupos envolvidos.

Antes de começar a discussão propriamente dita é preciso aturar uma extenuante sucessão de ¿informes¿ - são comunicações de adesões à greve, gestos de solidariedade e ameaças de novas invasões em outras universidades; e também de invasões de fábrica ou de terras, seguidas por denúncias de ¿covardes agressões da direita fascista¿, temas que apaixonam os militantes do PCO.

De trás da mesa, lideranças de PCO, PSTU e PSOL instruem os militantes na platéia. A uma proposta, Bira (negou-se a revelar o nome completo), estudante de História que milita no PSTU, levantou o braço rapidamente para sinalizar o voto. Uma proposta recebeu poucos votos e um militante de idade nada estudantil segredou a Ellen Ruiz, estudante de História e militante do PSTU, que dirigia a mesa: ¿Vota outra vez¿.

Obediente, Ellen pegou o microfone e inventou: ¿Olha só, tem gente achando que a proposta não foi bem entendida pela platéia. Vamos votar outra vez.¿ A nova votação foi acompanhada por insistentes sinais de trás da mesa e, desta vez, aprovada entusiasticamente. Depois de duas horas decidiu-se, afinal, quais seriam as regras da discussão. Só então, ante a uma platéia já cansada, passou-se ao debate da ocupação.

Durante a semana, o Estado propôs três vezes aos estudantes uma entrevista com seis ou sete deles, de tendências e faculdades diferentes. Nas três vezes os estudantes disseram que submeteriam a proposta ¿ao coletivo¿. Nas três vezes, não houve resposta.