Título: Para líderes sem-terra, governo não funciona sem pressão
Autor: Tomazela, José Maria
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/06/2007, Nacional, p. A9

Os principais líderes do Movimento dos Sem-Terra (MST) acreditam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva desistiu de levar adiante o projeto de reforma agrária no País. Embora seja um compromisso de governo e previsto em lei, o programa está praticamente parado, na avaliação do movimento. A demanda, segundo o MST, é imensa: há 4 milhões de famílias esperando terra em todo o Brasil. Só o movimento tem 140 mil sob a lona. Para os líderes, o antigo aliado se rendeu ao modelo que interessa ao capital, que tem garantido números modestos, mas consistentes, para a economia, e abandonou compromissos assumidos com os movimentos sociais. Por isso, o MST decidiu se articular com outros setores para ganhar mais força política. O Estado perguntou a seis dos principais líderes do MST, todos integrantes da direção nacional, se o governo faria a reforma agrária, caso o movimento deixasse de pressionar. A resposta foi unânime.

¿Não. Primeiro nós temos de discutir um novo modelo de reforma agrária baseado nos 20 pontos que nós já entregamos para o governo Lula e estamos debatendo com o governo¿, afirmou João Pedro Stédile. ¿É um programa que supera a fase dessa herança maldita do Fernando Henrique Cardoso, em que foi confundido reforma agrária com apenas fazer assentamentos.¿

Na opinião de Stédile, os assentamentos atuais não são um processo de reforma agrária. ¿Eles representam dividir algumas fazendas, sobretudo na Amazônia, e jogar o povo pobre em cima¿, criticou. ¿Em segundo lugar, como o próprio presidente tem dito em várias ocasiões, sem a pressão social, sem os movimentos sociais organizados não haverá nenhuma mudança neste país. O MST só tem razão de existir se continuar organizando os pobres no campo para que lutem e pressionem. Sem isso não haverá não só a reforma agrária como nenhuma mudança neste país.¿

Gilmar Mauro observou que seria uma utopia achar que o governo pode fazer a reforma agrária sem pressão. ¿Isso nunca ocorreu, não ocorre e não ocorrerá. Assim como nós pressionamos para fazer, o outro lado pressiona para não fazer. O capitalista não concorda com a distribuição das terras e vai combater sempre. Esse conflito de classes se repete no governo. Um lado quer, o outro não. Nossa tarefa é fazer a sociedade entender a importância da reforma para obtermos mais força política.¿

Para Jaime Amorim, a pressão é indispensável. ¿Não está fazendo (a reforma agrária) nem pressionando, nem o movimento ocupando, fazendo marcha, fazendo a reivindicação, que dirá se parar¿, comentou. ¿Nosso papel histórico é este, fazer a pressão, fazer a mobilização para que o governo cumpra a lei. Essa é a principal parceria que poderia ocorrer. O movimento social pressiona e o governo executa aquilo que diz a lei. Teria de se perguntar para o presidente por que ele não faz.¿

A líder Marina dos Santos reforçou essa tese. ¿Qualquer governo só funciona como feijão cru. Só funciona se botar pressão. O governo Lula se afastou do seu compromisso histórico com a reforma agrária. Vamos pressionar para fazer a reforma agrária mantendo a autonomia de movimento social. Enfrentar o capital no campo e pressionar para que o governo ceda às vontades do povo.¿

¿Sem pressão popular nenhum governo funciona¿ , endossou Vanderlei Martini. ¿Nada acontece por acaso, nada cai no céu. As grandes transformações que a humanidade conhece, as mudanças que nós conhecemos na nossa sociedade foram feitas com a participação efetiva da maioria da população. A reforma agrária que nós queremos, a gente acredita que ela virá com a mobilização dos sem-terra principalmente, mas em conjunto com diferentes setores da sociedade brasileira.¿

José Batista de Oliveira disse que o problema é o governo operar um modelo em que não cabe a reforma agrária. ¿Falta decisão política para romper essa estrutura do agronegócio. É o modelo que está sendo priorizado e que temos de combater. O Estado tem a obrigação de fazer, mas não faz. E o Estado hoje é o Lula. A sociedade deve fazer pressão sobre o governo por uma mudança estrutural.¿