Título: Chávez amplia centralização
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Fonte: O Estado de São Paulo, 18/06/2007, Internacional, p. A13
O presidente venezuelano, Hugo Chávez, anunciou ontem três medidas que irão ampliar ainda mais a centralização estatal na Venezuela: a criação de uma comissão para pôr fim à autonomia dos órgãos públicos, a fundação de 200 empresas estatais para produzir desde alimentos a computadores e um plano para concentrar o poder de decisão em setores estratégicos, como o de eletricidade.
O anúncio foi feito no programa de TV do líder venezuelano - o Alô Presidente. Chávez explicou que a chamada Comissão Central de Planificação terá como objetivo coordenar e centralizar os organismos do setor público. ¿Acabou a autonomia dos órgãos do Estado. É preciso haver centralização, sobretudo na planificação, porque nós herdamos um Estado dividido¿, afirmou o presidente, acrescentando que o seu objetivo é construir uma ¿república socialista¿.
Acusado pela oposição de ser muito centralizador, Chávez não especificou quais órgãos ficarão subordinados à nova comissão - que será dirigida pelo vice-presidente Jorge Rodríguez. No entanto, chama atenção o fato de que, segundo o líder venezuelano, ela deverá incluir em sua coordenação o Banco Central venezuelano - entidade cuja autonomia o presidente ameaçou limitar no passado.
Ao falar sobre as 200 novas empresas estatais que pretende criar ainda este ano, Chávez explicou que a prioridade será suprir a demanda dos setores populares. ¿As empresas terão um caráter fundamentalmente socialista¿, garantiu o presidente, acrescentando que as novas companhias produzirão desde alimentos até equipamentos médicos, computadores e materiais de construção.
A criação da chamada Corporação Elétrica Nacional, que unificará em um só órgão mais de dez empresas encarregadas da geração e distribuição de eletricidade na Venezuela, foi o terceiro anúncio feito por Chávez. O modelo poderá ser ampliado para outros setores.
AMEAÇA AOS PECUARISTAS
Preocupado com a escalada da inflação e a escassez de produtos básicos para a alimentação, Chávez também ameaçou expropriar as empresas do setor de laticínios e os pecuaristas que se negarem a vender leite pelos preços estabelecidos pelo governo. ¿Se eles não quiserem vender pelos preços regulados, aplicaremos o peso da lei¿, disse. ¿Esses produtores deveriam ter seu gado e suas terras expropriados.¿
Nos últimos meses, os venezuelanos têm sofrido com a escassez de produtos como leite, carne e açúcar. Os empresários atribuem o desabastecimento à política de tabelamento de preços, que desestimularia os investimentos. O governo, por sua vez, acusa os produtores e comerciantes de estocarem produtos com fins especulativos.
Tentando solucionar o problema na marra, Chávez já ameaçou estatizar frigoríficos e distribuidoras de alimentos. Ontem, ele disse que a escassez é resultado natural do ¿processo de transição do modelo capitalista para o socialista, ainda incapaz de produzir os bens necessários para satisfazer a população¿.