Título: Meta de inflação divide opiniões às vésperas da reunião do CMN
Autor: Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/06/2007, Economia, p. B4
O Conselho Monetário Nacional (CMN) tomará neste mês duas decisões que interferirão no ritmo de crescimento da economia nos próximos dois anos. Serão definidas a meta de inflação para 2009 e a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) para o próximo trimestre. A primeira decisão dará o tom para o Banco Central (BC) conduzir a política de juros. A segunda poderá ser um estímulo extra a novos investimentos produtivos, feitos com dinheiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O governo está dividido às vésperas do 'super CMN'. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, quer manter a meta de 2009 em 4,5%, o mesmo nível de 2007 e 2008. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, acha que ela deve ser reduzida a 4%. O CMN é formado pelos dois, mais o presidente do BC, Henrique Meirelles, que não explicitou seu voto, mas sabe-se que é entusiasta da meta mais baixa.
'Acho que vai dar dois a um para a meta de 4%', disse o economista-chefe do banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves. 'Para mim, a meta para 2009 já está reduzida; a discussão agora é se será amarrado algo para 2010 também.' Essa questão, porém, está indefinida e não será decidida no voto, segundo disse ao Estado o ministro Paulo Bernardo. 'Vamos fazer um debate. Pode ser que o ministro Guido me convença, pode ser que eu o convença.' O trio levará o tema ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, ao final, vai arbitrar o objetivo.
Embora sejam discussões independentes, uma forma de tentar convencer Mantega a aceitar a idéia de uma meta de inflação menor poderá ser a decisão sobre a TJLP, também na pauta do Conselho. O ministro é entusiasta dos juros baixos, sempre defendeu quedas da TJLP e por isso estaria sensível ao argumento de que uma meta menor permitiria um corte maior na taxa - atualmente em 6,5% ao ano, porcentual que ficou inalterado na última reunião. A TJLP é formada pela combinação da meta de inflação com projeção sobre a taxa de risco do País. Ainda não há uma direção clara do governo sobre esse tema.
Apesar de há alguns meses ter dado sinais de que poderia ceder à posição do BC e do ministro Paulo Bernardo sobre a meta de inflação, Mantega recentemente abandonou o silêncio e voltou a se posicionar mais firmemente em favor dos 4,5%. Na Fazenda, já há quem dê como certa a manutenção do objetivo. De fato, o posicionamento público de Mantega, que já chegou a desautorizar o debate, pode indicar a convicção sobre sua vitória. Embora não se deva negar que ele já falou muita coisa que não se concretizou, também não é prudente ignorar o fato dele ser um dos interlocutores mais freqüentes de Lula.
MAIS OUSADIA
Por trás de discussão aparentemente pequena - diferença de 0,5 ponto porcentual numa meta de inflação para daqui a dois anos - há toda uma discussão sobre a velocidade de crescimento da economia brasileira.
Mantega defende a meta de 4,5% porque acha desnecessário se comprometer com uma meta mais baixa que, eventualmente, poderia forçar o BC a interromper a trajetória de queda nos juros. Ele já declarou que a atual meta permitiu que os juros continuassem em queda, com inflação sob controle e economia em crescimento.
Ele e outros que defendem uma meta de inflação mais folgada, como o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), querem, na prática, reservar espaço para mais ousadia na redução dos juros e, assim, acelerar o crescimento da economia. 'Em um país como o Brasil é necessária maior margem de manobra e maior flexibilidade para a política monetária', diz o professor da PUC-SP Antônio Corrêa de Lacerda. Segundo ele, a redução para 4% serviria apenas para dar mais justificativas a uma postura conservadora do BC.
No momento, esse é um argumento atraente a Lula, que se mostrou insatisfeito com a taxa de crescimento de 4,3% registrada no primeiro trimestre do ano. Por outro lado, Lula é o maior defensor, dentro e fora do governo, dos benefícios da inflação baixa, principalmente para a baixa renda. Na semana passada, ele lembrou dos fracassados planos econômicos dos anos 80, que frustravam a população. 'O único plano que eu tenho é o plano da seriedade. É um plano que não posso errar, porque se eu errar vai quebrar nas costas dos mais fracos neste País, vai quebrar nas contas dos trabalhadores.'
Para Paulo Bernardo, não há razões para manter a meta de 4,5% porque a inflação já está bem abaixo disso. As projeções do mercado financeiro, captadas na pesquisa Focus do Banco Central, apontam para inflação de 3,59% já neste ano. Ele acha que o governo pode optar por essa meta mais baixa, dando um importante sinal ao mercado. 'Se houver uma crise, a gente muda a meta', disse.
O estrategista do banco BNP Paribas, Alexandre Lintz, tem pensamento semelhante. Ele lembra que as expectativas de inflação para 2009 já estão em 4% e seria importante mantê-las nesse patamar. 'A redução da meta teria impacto econômico nulo, somente ancoraria as expectativas, em um ambiente em que a inflação está muito tranqüila', disse. 'A manutenção da meta provocaria uma reinflação desnecessária.'