Título: TV e internet agora chegam pela luz
Autor: Cruz, Renato
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/06/2007, Negócios, p. B14

O arquiteto paulistano Reynaldo Franco, de 54 anos, chega a ficar nervoso com a internet no seu escritório. Ele usa um acesso convencional de banda larga, com velocidade de 1 megabit por segundo (1 Mbps). É bastante, levando-se em conta que somente 22% dos acessos no Brasil tinham mais que 1 Mbps no fim de 2006. Mas nem se compara aos 39 Mbps que testa em casa desde o mês passado.

'Quando digito um endereço de internet, a página aparece na hora', diz Franco, que participa do projeto-piloto de acesso por fibra óptica que a Telefônica faz com 25 clientes na região dos Jardins. 'É muito rápido passar projetos feitos no computador por e-mail.' Os 39 Mbps que o arquiteto tem em casa equivalem a quase 700 acessos discados. Se a velocidade fosse a mesma na outra ponta, de quem fornece o serviço, poderia receber uma canção digitalizada em um segundo ou um filme de longa metragem em três minutos.

Tradicionalmente, a fibra óptica é usada para transportar informações no chamado backbone, a espinha dorsal das redes de telecomunicações, que juntam o tráfego de vários clientes. O surgimento da banda larga trouxe a fibra, de alta capacidade de transmissão, cada vez mais perto do cliente. O crescimento do vídeo via rede tornou o acesso residencial por fibra uma realidade em países como o Japão e a Coréia do Sul. A Verizon investe maciçamente em fibra nos Estados Unidos, e tinha 687 mil clientes conectados no fim do ano passado.

TELEVISÃO

Dos 25 clientes com a banda larga via fibra da internet, 18 também testam o serviço de IPTV, TV por banda larga direto no aparelho de televisão. A regulamentação não permite que a Telefônica ofereça comercialmente canais por IPTV, somente vídeo sob demanda. No teste, em que o serviço é gratuito, oferece ambos. A grade do IPTV da Telefônica ainda não tem os canais nacionais. 'A imagem é boa, mas ainda a da Net é melhor', disse Franco, que também assina o pacote de televisão, internet e telefonia da empresa de TV a cabo.

Ele gostou do serviço de vídeo sob demanda, em que pode escolher o filme que quer. O filme vem pela rede, mas funciona como se estivesse num DVD, com recursos de play, forward e back. 'É uma facilidade que vai concorrer com as locadoras', afirmou o arquiteto. O único defeito, segundo Franco, é que o teste só oferece uma dúzia de filmes. 'Já vi a maioria.'

O arquiteto disse que assinaria o serviço, se o preço fosse razoável. Mas o valor, dado importante para o consumidor, a Telefônica ainda não revela. 'Estamos definindo os detalhes comerciais e de funcionamento do pacote', disse Paulo Furukawa, diretor de Rede de Acesso da Telefônica. A subsidiária brasileira é a primeira empresa do grupo a oferecer acesso de fibra para o cliente residencial. Nem a matriz está fazendo isso.

REDE EXCLUSIVA

A Telefônica construiu uma rede de fibras exclusiva para os clientes no Jardins, com capacidade para atender 4 mil residências. 'Somos pioneiros no Brasil', explicou José Luiz Dutra, diretor de Planejamento e Engenharia da operadora. 'A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) está acompanhando o processo, para homologar o sistema.'

A empresa quer lançar o quanto antes a banda larga via fibra e o IPTV assim que a legislação permitir. A corrida para a tecnologia pode ser explicada pela oferta de telefonia, internet e TV pelas empresas de cabo. Apesar de não estar testando isso, a Telefônica também poderia ter telefonia na fibra.

Cada ponto de televisão consome 3 Mbps de capacidade no IPTV, com a qualidade atual de imagem. Com a alta definição, que deve estrear na TV aberta em dezembro, chegaria a 12 Mbps. Como as casas costumam ter dois ou três pontos, ficaria difícil oferecer o serviço pelos fios de cobre. O Speedy chega hoje a 8 Mbps e, segundo testes da empresa, poderia ir até 10 Mbps. Ou seja, ainda faltaria capacidade para um ponto com alta definição.

A Brasil Telecom planeja iniciar um piloto em Brasília até setembro. 'Já pensamos nisso há cinco anos', afirmou Mauro Fukuda, diretor técnico e de Arquitetura de Redes da operadora. 'O problema era econômico.' O executivo acredita que os acessos de altíssima velocidade são produto de nicho, mas ressaltou que a operadora precisa estar pronta com uma rede de grande velocidade para transmitir sinais de TV.

A opção da Oi (antiga Telemar) não foi de levar a fibra à casa do cliente, mas de trazê-la para perto, usando ainda o par de fios de cobre nos últimos 300 ou 500 metros. 'Essa solução tem custo menor e é mais rápida de se implantar', explicou João Silveira, diretor de Varejo da Oi. Ele está com um piloto na região da Lagoa e do Jardim Botânico, no Rio, com velocidade de até 25 Mbps. 'O aumento da capacidade da banda larga faz parte da estratégia de oferecer soluções integradas', disse Silveira. Ou seja, prepara o terreno para a TV.

MAIS VELOCIDADE

56 Kbps é a velocidade que atingem os acessos de internet discada

8 Mbps é a velocidade máxima de serviços de banda larga que já estão no mercado, como o Speedy e o Vírtua. Equivale a mais de 140 acessos discados

39 Mbps é quanto a Telefônica oferece nos testes de fibra óptica na casa do cliente

10 Gbps é quanto chegam os acessos corporativos por fibra. Um Gbps equivale a 1 mil Mbps

25 clientes fazem o teste de acesso óptico da Telefônica, com banda larga. Desse grupo, 18 também testam o serviço de televisão

4 mil residências podem ser atendidas pela rede óptica instalada pela Telefônica nos Jardins.