Título: Deputados da oposição pedem que senador se afaste do cargo
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/06/2007, Nacional, p. A4
O líder do DEM na Câmara, Onyx Lorenzoni (RS), defendeu ontem o afastamento do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), até a conclusão pelo Conselho Ética do processo que investiga suposto pagamento de suas contas pessoais por Cláudio Gontijo, lobista da empreiteira Mendes Júnior. ¿Renan não está tendo a consciência de que ele não pode usar a presidência do Senado e do Congresso como um escudo pessoal¿, afirmou.
Lorenzoni disse que, em qualquer democracia amadurecida do mundo, o presidente do Congresso tomaria a decisão de se afastar. Para ele, o caso afeta muito a imagem do Parlamento. ¿A Câmara e o Senado estão produzindo momentos negativos. Por essa razão, nossa luta é fazer com que a reforma política seja aprovada, pois precisamos modificar a forma como se constitui a representação parlamentar, com o objetivo de acabar com o balcão de negócios¿, disse Lorenzoni, após participar de um seminário organizado pelo DEM em São Paulo.
A declaração do líder não representa unanimidade no partido, mas aumenta o número de parlamentares que têm defendido o afastamento temporário de Renan da presidência do Senado. PSOL, PV e PPS decidiram que, caso o Conselho de Ética decida arquivar o processo, esses partidos vão recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que as investigações continuem.
¿Nós vamos aguardar a fase da perícia feita pela Polícia Federal nos documentos da defesa de Renan¿, disse o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ). ¿Sabemos que a perícia está sendo feita às pressas e há no Conselho de Ética uma perspectiva pró-Renan. Vamos aguardar a decisão do conselho e, depois, vamos atrás do procurador da República, para questionar a decisão que for tomada¿, informou.
Gabeira acha que, se a população mostrar que está indignada com o posicionamento do Conselho de Ética, será possível reverter a tendência favorável a Renan - a probabilidade, hoje, é de que ele obtenha 9 dos 15 votos no colegiado. ¿É muito difícil você enfrentar a população. Entre o corporativismo e o instinto de sobrevivência, tenho certeza de que vai prevalecer o segundo¿, opina.
Como Lorenzoni, o deputado do PV também insiste no afastamento do presidente do Senado. ¿Ele deveria ter se afastado, porque está sendo julgado pelo Conselho de Ética. Permanecer no cargo é uma anomalia¿, argumentou. ¿O processo só pode ser razoável se houver tempo para as perícias e se Renan se afastar.¿
Já o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), defendeu rigor na apuração das suspeitas, mas não o afastamento de Renan. Segundo ele, a manifestação de Lorenzoni não é uma opinião do partido. ¿Essa não é uma posição partidária. Trata-se de uma opinião pessoal, que não vai influenciar no resultado.¿
Já o vice-líder do DEM na Câmara, José Carlos Aleluia (DEM-BA), preferiu não entrar na polêmica. ¿Sou deputado. Não me sinto no direito de dar palpites sobre os destinos do Senado¿, frisou.
CNBB
O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), d. Geraldo Lyrio, também se manifestou ontem sobre o caso. Para ele, o princípio legal da presunção de inocência deve ser aplicado a Renan, mas as denúncias contra o parlamentar devem ser apuradas.
¿Todas acusações precisam ser investigadas a fundo, mas não podemos fazer prejulgamentos. Todo cidadão é considerado inocente enquanto não for provado que é culpado¿, disse. ¿Não podemos resvalar por aquela postura, característica de regimes autoritários, onde se parte do princípio de que um acusado é culpado enquanto não provar a inocência.¿