Título: Renan deu R$ 100 mil em dinheiro vivo a jornalista
Autor: Scinocca, Ana Paula e Costa, Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/06/2007, Nacional, p. A2

O advogado Pedro Calmon Filho acusou ontem o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de pagar ¿por fora¿, ao longo do ano de 2006, R$ 9 mil mensais de pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha fora do casamento. O dinheiro seria fruto de acordo para completar a pensão alimentícia estipulada a partir de dezembro de 2005, no valor de R$ 3 mil. A revelação foi feita durante o depoimento de três horas de Calmon no Conselho de Ética do Senado.

Ao apresentar sua versão e a de sua cliente aos senadores, o advogado também confirmou que Renan pagou, em 2006, R$ 100 mil ¿em dinheiro vivo distribuído em duas sacolas ¿ para a jornalista. O presidente do Senado diz que o pagamento visava a constituir um fundo de educação para a criança. Calmon nega essa versão e fala em complemento de pensão que o senador teria deixado de pagar.

O depoimento do advogado complicou politicamente a vida de Renan. Para alguns senadores, a revelação do pagamento ¿por fora¿ e das ¿sacolas de dinheiro¿ reforçou a suspeita de que ele usou dinheiro não-contabilizado para arcar com essas despesas. Diante do novo cenário, mas alegando que precisa de tempo para analisar a perícias feita pela Polícia Federal, o presidente do Conselho de Ética, Sibá Machado (PT-AC), adiou a votação do novo relatório do processo contra Renan de hoje para amanhã, às 13h30.

Sibá disse que os peritos ficaram de entregar os laudos até meio-dia e ele precisa da tarde de hoje para fazer o parecer - por causa da licença de 10 dias pedida pelo relator Epitácio Cafeteira (PTB-MA), Sibá assumiu ontem o posto como substituto. Ele espera escolher hoje o novo relator.

CONFRONTO

O depoimento de Calmon foi marcado por bate-bocas. Na ânsia de salvar o presidente da Casa, seus aliados acabaram por revelar trechos do processo em que eram partes ele e Mônica Veloso e corria em segredo de Justiça na 4ª Vara da Família. Isso irritou o advogado e o levou a ler trecho de uma petição na qual o acordo de R$ 9 mil é mencionado. Sentado ao fundo do plenário, acompanhando atentamente o depoimento, o advogado de Renan, Eduardo Ferrão, negou tal negociação e o acordo. ¿É mentira¿, afirmou, mas não deu detalhes de como, então, o senador pagava os R$ 12 mil à jornalista.

Na versão de Calmon, desde o nascimento da filha com Mônica, em 2004, Renan pagava R$ 12 mil mensais de pensão. A partir de dezembro de 2005, quando o senador reconheceu a paternidade da menina, a pensão estipulada passou a ser de R$ 3 mil, valor compatível com a renda líquida de Renan como senador. ¿Não poderíamos fazer acordo maior que o de R$ 3 mil porque os rendimentos dele só comportavam pensão de R$ 3 mil¿, disse Calmon.

ACORDO

Diante da impossibilidade de pagar ¿oficialmente¿ valor maior, afirmou o advogado, Renan teria proposto acordo. Irritado, ele leu um trecho do processo: ¿Foi proposto à genitora que assumisse o acordo de R$ 3 mil oficialmente e R$ 9 mil oficiosamente, por fora.¿ E prosseguiu: ¿Ele (Renan) pagou até outubro de 2006 quando o acordo foi rompido e em 6 de dezembro entramos com a petição.¿

FRASES

A certa altura de seu depoimento, Calmon reagiu duramente à pressão da tropa de choque de Renan no Conselho de Ética. ¿Agora entendi por que me chamaram para esse conselho. É mais uma cortina de fumaça para encobrir o caso.¿

'Renan pagou até outubro e em 6 de dezembro entramos com a petição'

¿Entendi por que me chamaram. É mais uma cortina de fumaça para encobrir o caso¿

¿Os senhores quebram aqui segredo de Justiça. Como já quebraram, então lhes informo¿

Do advogado Pedro Calmon Filho, durante seu depoimento de três horas no Conselho de Ética do Senado.