Título: Policiais admitem contato com Chokr
Autor: Pereira, Rodrigo
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/06/2007, Metrópole, p. C3

Seis policiais ouvidos pelo Estado ontem consideraram fato normal ter os nomes e os números de telefone na memória do aparelho celular ou na agenda apreendidos com o advogado Jamil Chokr, apontado como elo do suposto esquema de propina entre bingueiros e donos de caça-níqueis com distritos policiais de São Paulo. Todos investigadores da capital paulista, eles disseram que a troca de contatos faz parte das relações profissionais de policiais e advogados e negaram ter praticado algo ilegal.

¿Sou policial há 22 anos, devo estar na agenda de mais de 300 advogados. É uma coisa muito comum, muito rotineira trocar cartões¿, disse um dos investigadores que admitiram ter algum contato com Chokr. ¿Conheci esse moço, se eu não me engano, há dois anos aproximadamente. Mas nem me lembrava da fisionomia dele. Trocamos alguns segundos de palavras. Se não me engano, eu dei meu celular para ele, mas não tenho certeza se eu dei.¿

Lotado no Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic), o investigador disse que ¿certamente¿ será chamado para prestar esclarecimentos à Corregedoria da Polícia Civil e abrirá ¿espontaneamente¿ os sigilos fiscal, bancário e telefônico. ¿Só estou aguardando me chamarem. Não tenho o menor contato com esse moço¿, insistiu.

Outro investigador do Deic disse ter conhecido o advogado depois de um dono de bingo ter sido preso por sua equipe, em 2005. Questionado se fora o único contato com Chokr, admitiu que foi procurado ¿recentemente, antes do acidente de carro dele¿. Chokr bateu seu Vectra na Marginal do Tietê no dia 25, ao fugir de um suposto assalto.

O investigador contou ainda estar há 25 anos na polícia e há 10 tem o mesmo número de celular e rádio Nextel. ¿Como você está falando comigo agora, eu falo com qualquer um. Isso é formalidade, tecnologia e avanços para favorecer o diálogo¿, disse, para justificar seus contatos nas mãos do advogado. O policial prometeu apresentar-se hoje à corregedoria.

Outros quatro investigadores negaram conhecer Chokr e atribuíram o fato de seus contatos estarem em poder do advogado a mera coincidência. ¿Estou acompanhando o noticiário, estou na mesma situação de todos os policiais, não sei de onde saiu isso¿, disse um deles.

¿Fui afastado sem saber do que se tratava. Agora, que estou sabendo que foi por ele ter meu celular, fica até melhor para eu me defender. Meu chefe, a delegacia toda ficou surpresa¿, revelou outro investigador que garantiu nunca ter ligado para Chokr. ¿Não sei do que estão me acusando, mas não me escondo não¿, concluiu.

A reportagem tentou contatar 37 investigadores da lista e da agenda do celular de Chokr. Desses, 14 atenderam - os celulares dos demais estavam desligados ou fora de serviço. Dois dos policiais que atenderam desligaram assim que foram questionados sobre a ligação com o advogado. Quatro disseram não ser a pessoa procurada ou, mesmo sendo policiais, alegam ser homônimos dos que constam da agenda de Chokr.

Outro negou conhecer Chokr. ¿Acabei de comprar esse Nextel, não estou sabendo de nada, você tem de conversar com ele, não comigo.¿ Ao ouvir seu nome, número do distrito em que trabalha e que os dados estavam com Chokr, mudou a versão. ¿Meu querido, meu nome pode estar em várias agendas, de vários advogados, porque todos (os advogados) entram em delegacias e a gente fala com eles.¿