Título: 'Reunião de Doha será briga de foice'
Autor: Chade, Jamil
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/06/2007, Economia, p. B3

O governo dá um recado claro aos setor agrícola: a atual Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) não trará todos os benefícios que os exportadores pedem e, para ampliar o acesso a mercados, o País terá de voltar a negociar acordos bilaterais. Hoje na cidade alemã de Potsdam, os ministros do Brasil, Índia, Estados Unidos e Europa (G-4) começam cinco dias de reuniões. Os quatro principais atores da OMC se reúnem com a tarefa de aproximar as posições na abertura dos mercados agrícolas, de produtos industriais e serviços. Apesar de os temas serem os mesmos há seis anos, o chanceler brasileiro, Celso Amorim, não esconde que a reunião será uma 'briga de foice'.

'Temos de ter uma mistura de ambição e realismo', afirmou, em um recado aos setores que pressionam por maiores cortes de tarifas nos países ricos. O G-4 precisa fechar um entendimento para permitir que as negociações entre os 150 membros da OMC possa ser concluída até o final do ano.

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, acredita que falta pouco para que a OMC tenha seu acordo e que a diferença estaria em alguns bilhões de dólares. Os americanos querem limitar seus subsídios para a agricultura em US$ 22,5 bilhões. Já os europeus teriam de reduzir suas tarifas para a importação de alimentos em mais de 50%.

Em sua edição de ontem, o Estado revelou que os exportadores haviam recebido a proposta de acordo entre Brasil e Europa e que teriam ficado frustrados com os ganhos modestos que terão. 'Mas precisamos olhar a médio e longo prazos. Essa não será a rodada para terminar com todas as negociações.' Pelos cálculos do Itamaraty, o que está sobre a mesa já é superior ao que estava sendo proposto em 2006, quando a rodada foi suspensa por falta de acordo. Naquela época, os americanos aceitavam um teto para seus subsídios de no máximo US$ 22,5 bilhões. Amorim garante que o valor ao final da semana em Potsdam ficará 'bem abaixo' de US$ 20 bilhões. 'Hoje, há a noção de que haverá cortes importantes de subsídios.'

Mas a alternativa para uma liberalização maior, segundo Amorim, será a de reiniciar acordos bilaterais. 'Imediatamente depois da conclusão da OMC vamos nos dedicar muito às negociações entre Mercosul e UE. É a negociação em que temos mais capacidade para pagar e mais capacidade para cobrar.' O processo entre Mercosul e Bruxelas foi suspenso em 2004, também por falta de um acordo.

Mas se com os europeus um acordo é visto como 'próximo', Amorim deixa claro que não há mais como pensar na Área de Livre Comércio das Américas (Alca). 'Sinceramente, a Alca não dá. O contexto negociador é muito desfavorável para o Brasil.