Título: Uruguai e Argentina discordam do
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/06/2007, Economia, p. B3

Brasil, Uruguai e Argentina não chegam a uma posição comum e o G-20 (grupo de países emergentes) não consegue fechar a nova proposta para as negociações agrícolas da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Ontem, antes de partirem para Potsdam para cinco dias de debates, os delegados brasileiros participaram de uma reunião com os demais diplomatas do G-20, em Genebra, em que ficaram demonstradas as contradições do bloco.

O objetivo do Brasil era conseguir que o grupo flexibilizasse sua posição nas negociações agrícolas para tentar um acordo com os demais países. Mas os governos do Uruguai e da Argentina deixaram claro que não vão aceitar reduzir a ambição do bloco em seus pedidos de abertura aos países ricos.

O resultado é que um novo documento com a posição do G-20 não pôde ser aprovado. Ao final da reunião, diplomatas de Cuba, da Venezuela e do Equador se queixavam da falta de transparência do Brasil, único país da América Latina a participar das negociações com Estados Unidos, Europa e Índia, o grupo de elite da OMC.

Mas, enquanto o Brasil tenta chegar a um acordo, os parceiros do País no Mercosul vêm endurecendo suas posições nas últimas semanas. Os argentinos, na semana passada, já alertaram que não aceitariam abrir seu mercado para produtos manufaturados, deixando claro que o processo de reindustrialização do país não poderia ser interrompido.

O chanceler Celso Amorim, já em Potsdam, garantiu que está 'atento aos interesses do Mercosul' e afirma que não haverá 'grandes turbulências nos setores sensíveis' das indústrias do bloco como resultado das concessões.

'Os setores mais afetados estão conscientes do que irá ocorrer e terão um período para implementar as decisões que forem tomadas', disse o chanceler, um dos quatro participantes das reuniões em Potsdam para tentar o acordo na OMC.

PRESSÃO

Com as posições de Brasil, Estados Unidos e Europa se aproximando no setor agrícola, há ainda a percepção de que a reunião que começa hoje será também de pressão sobre o Itamaraty. Isso porque os países ricos vão querer compensar as suas concessões na área agrícola com aberturas do Brasil no setor industrial.

Amorim garante que o Brasil tem espaço para mostrar flexibilidade, mas nega que aceitará ser pressionado. 'O tema central dessa rodada é a agricultura. O grande desequilíbrio nas regras do comércio é a agricultura', lembrou. Para ele, as concessões que o Brasil poderá fazer no campo industrial são maiores que as dos próprios países ricos.

Um exemplo, segundo o chanceler, é o setor automotivo. Uma queda de suas tarifas de importação de 35% para 25% seria substancial, na avaliação do Itamaraty. Embora as taxas sejam superiores às dos países ricos, a criação de comércio que essa redução proporcionaria seria importante.

CALMA

Para tentar solucionar todos esses temas, o local escolhido pelos anfitriões europeus para o encontro de hoje dos ministros não poderia ser mais propício. A conferência ocorrerá no Hotel Cecilianhof, isolado e cercado por um bosque. Dentro, a decoração é bastante sóbria.

O hotel ainda não deixa a desejar em termos históricos para inspirar os negociadores dessa rodada. Foi ali que a divisão da Alemanha derrotada foi acertada entre os Estados Unidos e a União Soviética em 1945, no final da Segunda Guerra Mundial. 'Cada um encontrará seus simbolismos', completou Amorim.

Em cinco dias de negociações, a idéia é que os ministros envolvidos tenham tempo suficiente para negociar detalhadamente cada ponto do acordo, falem com seus chefes de Estado e saiam com um pacote.

'Se vai dar resultado ou não, tenho de confessar, sinceramente, que não tenho certeza', concluiu o chanceler brasileiro.