Título: Meirelles nega desindustrialização
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Fonte: O Estado de São Paulo, 19/06/2007, Economia, p. B5

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, disse ontem que o crescimento da produção industrial vai se acelerar, negando que haja qualquer problema de desindustrialização no Brasil por causa do câmbio valorizado. 'A produção industrial está crescendo e a expectativa é que venha a se acelerar', disse. 'A economia e a indústria estão extraordinariamente pujantes', acrescentou.

Nos 12 meses terminados em março de 2007, o PIB cresceu 3,8%, mas a indústria expandiu-se apenas 2,3% e a indústria de transformação, 1,5%.

Meirelles fez duas palestras ontem: em São Paulo, na Câmara Americana de Comércio (Amcham), e no Rio, à tarde, no Instituto Brasileiro de Executivo Financeiros (Ibef). Para o presidente do BC, os números do investimento e da compra de máquinas pela indústria vão garantir o crescimento da produção industrial. 'O investimento mostra claramente aumento da capacidade de produção, e evidentemente esses investimentos vão maturar no seu devido tempo', observou.

Para Meirelles, a aceleração da produção industrial será uma conseqüência do aumento de produtividade, em função da maior estabilidade e do menor custo de capital. Sobre a queda da participação da indústria no Produto Interno Bruto (PIB), comentou que 'o aumento do setor de serviços hoje, no mundo todo, é um fenômeno natural'. Sobre a valorização cambial, exibiu um gráfico com a variação real do câmbio contra 15 moedas de 1988 e 2007 que mostra que a cotação atual está em torno da média do período.

CRESCIMENTO SUSTENTÁVEL

Em São Paulo, Meirelles fez uma leitura positiva do crescimento de 4,3% do PIB no primeiro trimestre ante igual período de 2006. 'O PIB mostra claramente que o Brasil está na rota de crescimento sustentável', disse. 'O PIB também mostra a força do investimento e do consumo das famílias, dois componentes essenciais para o crescimento continuar.' Ele ressaltou também o aumento da massa salarial de 8,4% em abril ante abril de 2006. 'Esse é um crescimento impressionante, de patamares asiáticos', destacou.

Durante palestra na Amcham, Meirelles voltou a rebater os críticos do controle inflacionário rígido exercido pelo BC. 'No Brasil, é sempre subestimado o efeito da estabilidade econômica. Devido à pouca consciência do custo da instabilidade, existe a sua irmã gêmea, que é a pouca consciência dos benefícios da estabilidade', disse Meirelles. Para ele, o Brasil já esgotou o modelo de crescimento com inflação alta.

Na defesa da atuação do BC, Meirelles ainda mostrou que em países como Nova Zelândia, Reino Unido, Chile e Israel a inflação orbita ao redor do centro da meta, ficando, em diversos momentos, abaixo. 'É necessário que a sociedade se conscientize de que a inflação vai estar na meta. Aí a taxa de juros cairá, e não o contrário', analisou.

Ele ainda destacou a necessidade de se aprofundar a discussão sobre a elevada carga tributária: 'É um debate válido, talvez o mais importante do País nos próximos anos. Mas tem de ser uma decisão nacional, e não voluntarista, de uma ou duas pessoas.' FERNANDO DANTAS, THIAGO VELLOSO E ADRIANA CHIARINI

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem, no seu programa semanal de rádio, 'Café com o presidente', uma radiografia da economia brasileira e concluiu que 'todos os números são positivos, todos os números demonstram que, finalmente, o Brasil conseguiu combinar estabilidade econômica com crescimento'. 'O Brasil vive o melhor momento desde que a República foi proclamada', arrematou.

Para Lula, o País conseguiu combinar crescimento com controle da inflação. Para demonstrar, citou vários indicadores, como a expansão de 4,3% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre e o avanço de exportações e importações.

Esse comportamento, segundo Lula, indica a melhor situação do País. 'Isso me deixa acreditando que a gente vai ter mais crescimento econômico, mais geração de emprego, mais distribuição de renda, mais exportação, mais importação e, portanto, mais riqueza será produzida neste País.'