Título: Menescal aparece em grampo, mas não é suspeito
Autor: Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2007, Nacional, p. A5

Apesar de ter pedido exoneração do cargo de diretor de Obras Hídricas do Ministério da Integração Nacional, o engenheiro Rogério Menescal não está sendo investigado pela Polícia Federal, na Operação Navalha, por suspeita de favorecimento da Construtora Gautama na liberação de verbas para a construção, em Alagoas, de uma barragem.

Em todo o processo ele aparece somente em uma gravação, em que conversa com o subsecretário de Infra-Estrutura de Alagoas, Denisson de Luna Tenório, que acabou sendo preso na Operação Navalha. Nas investigações realizadas, entretanto, a PF descartou qualquer envolvimento de Menescal nas irregularidades da máfia das obras, especializada em desviar verbas públicas por meio de licitações fraudulentas.

Funcionário concursado da Agência Nacional de Águas (ANA), Menescal ocupava o cargo de diretor de Obras Hídricas desde 2005, convidado pelo então secretário-executivo do Ministério da Integração Nacional, Márcio Lacerda. De perfil técnico, Menescal era quem coordenava desde 2003 a equipe do Programa Pró-Água Semi-Árido, que lhe valeu o convite para entrar no ministério.

DIÁLOGO

No diálogo travado com Denisson, Menescal fala em ¿redução de perdas¿, ao tratar do Sistema de Abastecimento da Região Metropolitana de Maceió (Sistema Pratagy), que compreende a construção da Barragem Duas Bocas e o reforço e a ampliação dos sistemas adutores existentes.

Esse trecho da conversa é que provocou a confusão em torno da suposta participação do ex-diretor da Integração Nacional em alguma irregularidade.

¿Para quem não conhece termos técnicos, essa conversa, falando em redução de perdas, pode parecer suspeita. Mas não é nada disso. Era apenas um esforço que vinha fazendo no sentido de não gastarmos dinheiro em construção de mais barragens e sistemas adutores , preferindo investir na redução de perdas do sistema de abastecimento. Só isso¿, explica Rogério Menescal.

O engenheiro disse também que foi surpreendido pela prisão de Denisson. ¿Como representante do ministério, eu só dialogava com os representantes do Estado onde a obra estava sendo feita. Nunca com representantes de empreiteiras. Então, como subsecretário, Denisson era o meu interlocutor para as obras em Alagoas¿, conta Menescal.

¿As conversas sempre foram técnicas e nunca houve qualquer insinuação da parte dele oferecendo alguma vantagem irregular. E eu sempre cobrava muito dele pela eficiência das obras. Fiquei surpreso com seu envolvimento no caso¿, disse o ex-diretor do ministério.

PRISÕES

Em Alagoas, além de Denisson, foram presos pela Operação Navalha os servidores estaduais Adeilson Teixeira Bezerra, José Vieira Crispim, Enéas de Alencastro Neto e Márcio Fidelson Menezes Gomes. Todos foram soltos após prestar depoimento à ministra Eliana Calmon, do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

O governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho (PSDB), foi intimado pela ministra a depor sobre o caso, o que ocorreu na última quarta-feira. O tucano disse que determinou uma auditoria na Secretaria de Infra-Estrutura, que, segundo a PF, era o maior foco da máfia das obras no Estado. Todos os servidores acusados de envolvimento foram exonerados, informou Teotônio. Depois de depor, o governador declarou ter sido chamado pela ministra para ¿ajudar a colaborar¿, não para ser investigado.